sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Manhã de Domingo

por Rodrigo Torquato da Silva Junior


Hoje o dia amanheceu lindo. O silêncio de uma manhã de fim-de-semana inundou-me enquanto o Sol aquecia os tijolos com seus raios vindos de tão longe, tão velozes. Mais veloz foi a transformação, do lixo ao luxo. Tão rápida que o atraso, se fosse o caso, nem seria notado. Mas eu não viajei. Em pouco tempo cheguei ao meu destino. Ah! E que brincalhão este tal destino. Há tão pouco tempo os jornais abriam a manhã com a notícia de que o hotel Intercontinental, situado no bairro “nobre” de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, fora invadido por meninos bandidos. E invadido foi, por uma juventude esquecida, abandonada, marginalizada, moradores da favela vizinha. Quão chocante foi assistir meninos tão jovens brandindo fuzis às portas de quem os negou entrada durante toda a vida? Ah, entrando pela porta da frente, não pelos fundos. Sendo recebidos com respeito, ou medo, tanto faz. O importante é que já estava feito. Pelo país a fora a notícia rolava e em pouco tempo no mundo todo já circulava. Esses “moleques”! Qual não foi o impacto de suas ações, imagine o que aconteceu com o valor das ações! O nome mudou mas o hotel ficou e a ironia é a que segue.
Nessa manhã, com “destino” diferente, outro menino nascido e criado na mesma favela, avançou em direção ao hotel, vizinho tão próximo e tão distante de nós, moradores da favela da Rocinha e, pela primeira vez, adentrou ao hall de entrada, parando na recepção. Esse outro menino, vizinho do antigo invasor: menino-bandido, apresentou-se como um professor. Lá, começou a ouvir. Ouviu que precisamos refletir, olhar para as crianças, entender suas andanças e buscar mudanças. Mudanças apoiadas nas palavras de grandes pensadores, afinal ali se encontravam professores. Professores que falharam com aqueles “muleques”, com os invasores. “Será que podemos nos culpar?” “Será que os invasores são frutos de nosso trabalho?” Ora, será que foram convidados a pensar para que não haja mais nomes a mudar? Assaltos a parar? Será que a ação de seu (des)serviço se transformou numa reflexão acerca de nosso ofício? Que bobagem! Essa é só mais uma brincadeira do destino. Só uma grande gozação em nossos ouvidos. Droga! Dessa manhã pelo menos aproveitarei os salgadinhos!

Rodrigo Torquato da Silva Júnior É morador da Rocinha, mestrando do Instituto de Física da UFF e graduado em Física pela mesma Universidade. Contato: torquatofis@gmail.com; digojunior@hotmail.com

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