por Rodrigo
Torquato da Silva Junior
Hoje
o dia amanheceu lindo. O silêncio de uma manhã de fim-de-semana inundou-me
enquanto o Sol aquecia os tijolos com seus raios vindos de tão longe, tão
velozes. Mais veloz foi a transformação, do lixo ao luxo. Tão rápida que o
atraso, se fosse o caso, nem seria notado. Mas eu não viajei. Em pouco tempo
cheguei ao meu destino. Ah! E que brincalhão este tal destino. Há tão pouco
tempo os jornais abriam a manhã com a notícia de que o hotel Intercontinental,
situado no bairro “nobre” de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, fora
invadido por meninos bandidos. E invadido foi, por uma juventude esquecida,
abandonada, marginalizada, moradores da favela vizinha. Quão chocante foi
assistir meninos tão jovens brandindo fuzis às portas de quem os negou entrada
durante toda a vida? Ah, entrando pela porta da frente, não pelos fundos. Sendo
recebidos com respeito, ou medo, tanto faz. O importante é que já estava feito.
Pelo país a fora a notícia rolava e em pouco tempo no mundo todo já circulava.
Esses “moleques”! Qual não foi o impacto de suas ações, imagine o que aconteceu
com o valor das ações! O nome mudou mas o hotel ficou e a ironia é a que segue.
Nessa
manhã, com “destino” diferente, outro menino nascido e criado na mesma favela, avançou
em direção ao hotel, vizinho tão próximo e tão distante de nós, moradores da
favela da Rocinha e, pela primeira vez, adentrou ao hall de entrada, parando na
recepção. Esse outro menino, vizinho do antigo invasor: menino-bandido,
apresentou-se como um professor. Lá, começou a ouvir. Ouviu que precisamos
refletir, olhar para as crianças, entender suas andanças e buscar mudanças.
Mudanças apoiadas nas palavras de grandes pensadores, afinal ali se encontravam
professores. Professores que falharam com aqueles “muleques”, com os invasores.
“Será que podemos nos culpar?” “Será que os invasores são frutos de nosso
trabalho?” Ora, será que foram convidados a pensar para que não haja mais nomes
a mudar? Assaltos a parar? Será que a ação de seu (des)serviço se transformou
numa reflexão acerca de nosso ofício? Que bobagem! Essa é só mais uma
brincadeira do destino. Só uma grande gozação em nossos ouvidos. Droga! Dessa
manhã pelo menos aproveitarei os salgadinhos!
Rodrigo Torquato da Silva Júnior É morador
da Rocinha, mestrando do Instituto de Física da UFF e graduado em Física pela
mesma Universidade. Contato: torquatofis@gmail.com; digojunior@hotmail.com
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