Sylvia Pessoa de Almeida
Feminista
Formada em
Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação
pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro
Contato: sylviapessoa@gmail.com
RESUMO
As mulheres, em diversos momentos da história
ocidental, lutaram contra sua condição de opressão, ainda que de forma isolada.
No entanto, o feminismo só surgiu como um movimento organizado por volta dos
séculos XVIII e XIX, inicialmente com a intenção de conquista de direitos
políticos e de oportunidade de trabalho. Com o decorrer da história e do
desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação as ideias
feministas puderam ser transmitidas a um numero maior de pessoas. Através do
discurso e utilizando-se de redes de memória e identidade, o feminismo busca
cooptar cada vez mais adeptos. A web e, especialmente, as redes sociais
contribuem sobremaneira pra expansão do feminismo, pela capacidade de atingir
um grande público. A pesquisa objetiva a resposta de como se dá essas relações
entre ideologia e identidade nas publicações feministas da web. Assim como
busca evidenciar a relação dialógica e responsiva entre os enunciados
imagéticos publicizados e, dessa forma, estabelecer a relação entre memória e
identidade nesse contexto. A metodologia utilizada para alcançar os objetivos
propostos foi qualitativa, alinhado aos conceitos de ideologia, discurso e
linguagem trabalhados por Mikhail Bakhtin, evocando as relações de memória e
identidade vistas com Michael Pollak, entre outros. A coleta de dados foi
realizada por meio da pesquisa exploratória, e a partir dessa coleta foi
realizada a análise do discurso à luz dos conceitos apresentados. A análise e
os resultados obtidos evidenciaram as relações dialógicas, responsivas e de
transmissão de discurso que resultam das ferramentas oferecidas pelo mundo
virtual. Percebeu-se também que a evocação da memória social é necessária para
criar o processo identitário com o feminismo no receptor do enunciado. Por fim,
conclui-se que o discurso feminista na web pretende alcançar, além de direitos
políticos, a internalização de que as mulheres possuem força e autonomia para provocar
a mudança social necessária a fim de romper com a ideologia dominante machista.
Palavras-chave: Analise do discurso. Memória.
Identidade. Enunciado. Feminismo.
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Introdução
O Feminismo é um movimento social
que luta pela equidade de direitos entre homens e mulheres. Surgiu entre os
séculos XVIII e XIX e vem ganhando bastante força nas ultimas décadas. Deve-se
considerar que, a partir de sua luta, as mulheres conquistaram diversos avanços
como o direito ao voto, o acesso à educação, saúde e previdência social, a
invenção da pílula anticoncepcional, a lei Maria da Penha[1], dentre outros.
Com o advento das redes sociais, a
luta feminista pode usufruir de outras ferramentas de combate. Com o acesso às
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), sua luta pode ser
intensificada de forma mais democrática e popular. Tal movimentação busca não
só a conquista de novos direitos, como também a mudança da ideologia dominante
– que tem sua base no machismo e no patriarcado, a conquista da autonomia
feminina e a liberdade da expressão de gênero.
Para tanto, o movimento feminista
se vale da internet e das redes sociais para criar nas pessoas um sentimento de
identidade e pertencimento com a causa, pois, como será visto mais adiante, a
identidade é algo que pode ser construído e reconstruído de acordo com as
escolhas do individuo. (POLLAK, 1997). Através da construção da memória social
e da identidade, a linguagem utilizada pelas redes sociais permite que a
ideologia seja transmitida de forma pontual e acessível.
Esse projeto tem por objetivo
geral a realização de uma analise do discurso feminista na web. Dentre seus
objetivos específicos, busca evidenciar a relação dialógica e responsiva entre
os enunciados imagéticos publicizados e, dessa forma, estabelecer a relação
entre memória e identidade nesse contexto.
Feminismo
No ano de 625 a.C, na Grécia Antiga (mais especificamente na
Ilha de Lesbos), liderada pela filósofa Safo, consta o registro de uma movimentação
feminista que foi responsável pela criação de um centro de formação intelectual
da mulher. No ano de 195 a.C, em Roma, registra-se reivindicações de mulheres
pelo direito de usarem os transportes coletivos. E data de 1405, o que se
considera hoje o primeiro tratado feminista, feito pela primeira poetisa da
corte francesa, Christine de Pisan, e intitulado “A cidade das mulheres”. Neste
tratado, afirma-se a igualdade entre homens e mulheres, reivindicando os mesmos
direitos de educação e condenando a dupla moral[2]
que acometia a vida das mulheres. (TÁBOAS, 2011). Observa-se, portanto, que
mulheres se rebelando contra sua condição de opressão não é algo tão recente na
história ocidental.
Tal movimentação é chamada pela teoria feminista de
pré-feminismo. Contudo, o Feminismo só ganha forma como um movimento organizado
entre os séculos XIX e XX. Este movimento é chamado de primeira onda do feminismo e se manifestou em vários momentos da
Era Moderna. Porém, podemos afirmar hoje que foi na Pós-Modernidade que ele se
fortaleceu, trazendo a segunda e terceira
ondas do movimento feminista.
A primeira onda, que caracteriza o nascimento do feminismo de
fato, nasceu como um “movimento liberal de luta das mulheres pela igualdade de
direitos civis, políticos e educativos, direitos que eram reservados apenas aos
homens.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649). Foi a partir de uma reivindicação
política – o direito ao voto, com o Movimento Sufragista[3]
– que o feminismo se fez presente na Europa e nos Estados Unidos. O feminismo
possuía também outros intuitos como a luta contra a discriminação feminina e a
denúncia da “opressão à mulher imposta pelo patriarcado” (Ibdem, 2006). No Brasil, o movimento se fez presente no fim do
século XVIII e inicio do século XIX, quando as brasileiras começaram a se
organizar e conquistar o direito à educação e ao trabalho.
Em 1907,
eclode em São Paulo a greve das costureiras, ponto inicial para o movimento por
uma jornada de trabalho de 8 horas. Somente em 1917, o serviço público passa a
admitir mulheres no quadro de funcionários. Dois anos depois, a Conferência do
Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho aprova a resolução
de salário igual para trabalho igual. (PORTAL BRASIL, 2013)
Em 1932, as brasileiras conquistam legalmente o direito ao
voto com o Código Eleitoral, porém, com uma série de restrições para seu
exercício. Foi só com a Constituição de 1946 que o direito pleno ao voto foi
concedido. Em 1934, a Assembleia Constituinte assegurava o
princípio de igualdade entre os sexos, o direito ao voto, a regulamentação do
trabalho feminino e a equiparação salarial entre os gêneros. (PORTAL BRASIL,
2013)
Com a ditadura do Estado Novo, em 1937, o movimento feminista
perde força. Só no fim da década seguinte volta a ganhar intensidade com a
criação da Federação das Mulheres do Brasil e a consolidação da presença
feminina nos movimentos políticos. Mas, com a ditadura militar impetrada em
1964, as ações do movimento esfriam e só retornam na década de 70,
principalmente como forma de combate à ditadura. (PORTAL BRASIL, 2013)
As décadas de 1960 e 1970 trazem consigo a chamada “segunda
onda" do movimento feminista, ocorrida especialmente nos EUA e na França.
As feministas americanas ressaltavam a denúncia da opressão masculina e
buscavam a igualdade entre os gêneros, o que foi chamado de “feminismo da
igualdade”. Já as feministas francesas não negavam a existência de diferenças
entre os sexos, afirmando que, no entanto, tais diferenças não deveriam
significar discriminação nem a anulação da experiência feminina. Este movimento
foi denominado como “feminismo da diferença”.
Para Scott
(2005), a questão da igualdade e da diferença deve ser concebida em termos de
paradoxo, ou seja, em termos de uma proposição que não pode ser resolvida, mas
apenas negociada, pois é verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Fraisse (1995)
entende que à questão filosófico-epistemológica da igualdade-diferença
sobrepõe-se a questão política, sugerindo que diferentes subjetividades,
masculinas e femininas, mesmo não sendo idênticas, podem ser iguais, no sentido
de serem equivalentes. Introduz-se, assim, a noção de equidade e paridade no
debate igualdade-diferença dentro dos movimentos feministas. (NARVAZ; KOLLER,
2006, p. 649)
Foi nessa época também que o movimento feminista voltou a
ganhar força no Brasil, devido a sua repercussão na Europa e nos EUA como forma
de luta contra a ditadura militar. Paralelamente, as ditaduras militares que
ocorriam em outros países da América Latina também influenciavam o movimento
por aqui. A partir desses contextos, o ano de 1975 foi declarado pela ONU como
o Ano Internacional da Mulher.
Nos anos 1980, com o inicio da Era Pós-Moderna e a partir dos
pensamentos pós-estruturalistas que predominava na França, que tinham como
representantes os filósofos Michel Foucault e Jacques Derrida, passa-se a
"enfatizar a questão da diferença, da subjetividade e da singularidade das
experiências, concebendo que as subjetividades são construídas pelos discursos,
em um campo que é sempre dialógico e intersubjetivo.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p.
649). Cabe a ressalva de que é esta ideia que permeará também a presente
pesquisa sobre analise do discurso feminista atual na web, como poderá ser visto
adiante. Tal pensamento fez eclodir a terceira
onda do feminismo, por volta dos anos de 1990, que se caracteriza pela
“análise das diferenças, da alteridade, da diversidade e da produção discursiva
da subjetividade.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649).
É nessa conjuntura que surge no Brasil a publicação Estudos Feministas, que tem como foco principal o estudo das e pelas mulheres e
como desafio “o pensamento sobre igualdade e a diferença na constituição das
subjetividades masculina e feminina.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649). Nessa fase do movimento,
foi possível observar o cruzamento entre o movimento político das ativistas
feministas e a academia, surgindo em algumas universidades brasileiras estudos
de gênero e feminismos.
É preciso,
contudo, entender que as três fases do movimento não ocorreram exatamente de
forma linear ao longo da história. Em diversas épocas, características das três
ondas coexistiram – e ainda coexistem na atualidade. Portanto, o recorte
histórico é feito com a intenção de melhor contextualizar o movimento.
Desta forma, pode-se demonstrar a conceituação do feminismo
como sendo “uma filosofia que reconhece que homens e mulheres têm experiências
diferentes e reivindica que pessoas diferentes sejam tratadas não como iguais,
mas como equivalentes” (FRAISSE, 1995; JONES, 1994; LOURO, 1999; SCOTT, 1986
apud NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 648). Entretanto, cabe ressaltar que existem no
feminismo várias vertentes (feminismo radical, feminismo liberal,
transfeminismo, feminismo negro, feminismo interseccional etc) e ele se
manifesta em variadas formas, não cabendo à pesquisa definir um "conceito
padrão" de feminismo.
Memória e Identidade
A memória é comumente vista como um
fenômeno particular e íntimo, próprio da pessoa. No entanto, lembrando o pensamento de
Maurice Halbwachs, Pollak nos diz que a memória também deve ser entendida como
uma construção "coletiva e social, ou seja, como um fenômeno construído
coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças
constantes." (POLLAK, 1992, p.201). Diz ele que a memória é seletiva e
que, como não é possível registrar tudo, ela seleciona o que é mais
significativo ou oportuno de ser preservado. Assim como também afirma que, em
parte, a memória é herdada no contexto familiar e social onde ela esta
inserida.
De acordo com o que afirma o autor,
a memória também tem grande contribuição na construção da identidade, tendo em
vista que é constituída social e individualmente. Quando se trata de memória
herdada, pode-se dizer que há uma relação muito próxima ao sentimento de
identidade.
Aqui o sentimento de identidade está sendo tomado no
seu sentido mais superficial, mas que nos basta no momento, que é o sentido da
imagem de si, para si e para os outros. Isto é, a imagem que uma pessoa adquire
ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que ela constrói e apresenta
aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação, mas
também para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros.
(POLLAK, 1992, p.204)
É sob esse aspecto que a pesquisa baseará o entrecruzamento
do discurso feminista com o que concerne à busca da memória do patriarcado ou,
em outras palavras, da luta feminista com o discurso machista perpetuado ao
longo dos tempos.
Como a evocação desses discursos
busca atingir as pessoas a fim de provocar nelas o sentimento de identidade com
o feminismo e, como consequência, a diferenciação com o machismo e o
patriarcado? Conforme afirma Pollak:
[...] Podemos, portanto, dizer que a memória é um
elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como
coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do
sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução de si. (1992, p. 204)
Se a memória é um elemento da
identidade social e ela é formada através da imagem "de si, para si e para
os outros", essa mesma é, em parte, formada por forças alheias à vontade
do indivíduo, ou do grupo, que é o Outro. Todos constroem sua identidade em referência
aos outros,
[...]
em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de
credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com outros. Vale
dizer que memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são
fenômenos que devam ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um
grupo. (POLLAK, 1992, p. 204)
A existência da luta interna entre memória individual e memória dos outros evidencia que “a
memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais,
e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos.” (POLLAK,
1992, p. 205).
No que se refere à identidade,
Cuche (2002) aponta que esta pode ser entendida como um processo de construção
histórica e, em certa medida, mais como uma posição estratégica do que como uma
posição estanque. Afinal, a identidade é um meio para a pessoa chegar a um
objetivo especifico, onde ela avalia a situação exposta e utiliza os recursos
identitários que possui. Bauman (2012, p.13) parece apontar para a mesma linha
de pensamento ao afirmar que “a identidade deve ser considerada um processo contínuo de
redefinir-se e de inventar e reinventar sua própria história”.
Percebe-se assim que a identidade
geralmente é bastante volátil e, portanto, frágil, exigindo um exercício
constante onde precisa ser defendida e protegida. Caso contrário se perde e,
uma vez perdida, dificilmente será possível sua reconstrução, menos ainda em
seu formato de origem.
As "identidades" flutuam no ar, algumas de
nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa
volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em
relação às ultimas. Há uma ampla probabilidade de desentendimento, e o
resultado da negociação permanece eternamente pendente. Quanto mais praticamos
e dominamos as difíceis habilidades necessárias para enfrentar essa condição
reconhecidamente ambivalente, menos agudas e dolorosas as arestas ásperas
parecem, menos grandiosos os desafios e menos irritantes os efeitos. Pode-se até
começar a sentir-se, chez soi,
"em casa", em qualquer lugar- mas o preço a ser pago é aceitação de
que em lugar algum se vai estar total e plenamente em casa. (BAUMAN, 2005, p.
19)
Poderá ser visto mais adiante, com
a análise das imagens e dos textos selecionados, como o discurso feminista se
vale do fortalecimento da figura feminina como forma de promover a identidade
destas com o movimento.
Memória,
cultura e linguagem
Em seu livro A noção de Cultura nas Ciências Sociais, Dennis Cuche diz que os
seres humanos são essencialmente "seres de cultura". A cultura
permite não apenas a adaptação aos meios, mas, também, a adaptação do meio as
nossas necessidades. "Em suma, a cultura torna possível a transformação da
natureza".
Se todas as pessoas possuem a mesma
carga genética, elas se diferenciam por suas escolhas culturais. Nada é
puramente natural no ser humano. Mesmo as funções humanas que correspondem a
necessidades fisiológicas, como a fome, o sono, o desejo sexual etc, são
informados pela cultura. (CUCHE, 2002, p. 11).
Segundo a concepção do antropólogo
Roque de Barros Laraia,
O homem [sic] é o resultado do meio cultural em que
foi socializado. Ele é o herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete
o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o
antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural
permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação
isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (LARAIA, 2009, p. 45)
O autor acrescenta ainda que “a cultura é um
processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações
anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.”
(LARAIA, 2009, p. 49).
Ademais, nem mesmo nossas
especificidades biológicas podem ser analisadas sem que se considerem os
fatores culturais envolvidos, pois a cultura tem influência direta em nossos
comportamentos. Tendo em vista que “tudo que o homem (sic) faz, aprendeu com os
seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura.”
(LARAIA, 2009, p. 51).
Cuche fala também da importância de
fazer, antes de tudo, "uma análise polemológica[4]
das culturas", uma vez que estas revelam conflitos que se desenvolvem na
tensão e muitas vezes na violência, porém, ao mesmo tempo, afirma que devemos
ter cuidado para não reduzir os sujeitos.
[...] como
a [redução] que supõe que o mais forte está sempre em condições de impor pura e
simplesmente sua ordem (cultural) ao mais fraco. Na medida em que a cultura
real só existe se produzida por indivíduos ou grupos que ocupam posições
desiguais no campo social, econômico e político, as culturas dos diferentes
grupos se encontram em maior ou menor posição de força (ou de fraqueza) em
relação às outras. Mas mesmo o mais fraco não se encontra jamais totalmente
desarmado no jogo cultural. (CUCHE, 2002, p. 145)
Traremos à discussão o que Cuche apresenta ao falar em
"cultura dominante" e "cultura dominada". Nesta discussão,
ele ressalta que as relações são estruturadas de forma hierárquica e evoca o
que Karl Marx e Max Weber afirmaram: "que a cultura da classe dominante é
sempre a cultura dominante". (CUCHE, 2002, p. 145).
Isso pode ser visto no discurso machista quando, por exemplo,
este evidencia a objetificação e hipersexualização feminina em campanhas
publicitárias de cerveja, ou, ainda, quando somente mulheres são retradas em
comerciais de produtos de limpeza.
Cabe nesse contexto,
portanto, o que Adorno e Horkheimer afirmaram:
[...] mais do que vender
produtos, a publicidade visa difundir e legitimar o estilo de vida e as visões
de mundo do grupo dominante, prescrevendo em seus anúncios normas de
comportamento e padrões de conduta própria das classes hegemônicas. (1985, apud
CAMPOS; CAMPOS, 2012, p. 213)
Voltando a Marx e Weber, Cuche assinala que ao se falar em
cultura dominante e cultura dominada, na verdade estamos destacando a
existência de "grupos sociais que estão em relação de dominação ou de
subordinação uns com os outros." (CUCHE, 2002, p. 145).
Esse fator social-ideológico é também ressaltado por Marina
Yaguello, na introdução de "Marxismo e filosofia da linguagem" de
Mikhail Bakhtin. Nesta obra, Yaguello (2009, p. 14) aponta que o autor
"valoriza justamente a fala, a enunciação, e afirma sua natureza social,
não individual: a fala está indissoluvelmente ligada às condições da
comunicação, que, por sua vez, estão sempre ligadas às estruturas sociais.”.
Entretanto, cabe salientar que a cultura dominada não seria
necessariamente uma "cultura alienada" mas, sim, uma cultura que em
sua evolução não poderia desprezar a cultura dominante, mesmo que busque
resistir à dominação. Tal afirmativa aponta para o que compreendemos ser o caso
do movimento feminista.
O habitus
Traremos também para a discussão o conceito de habitus trabalhado por Pierre Bourdieu,
que diz que
[os
habitus] são sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas
estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, a
funcionar como princípios geradores e organizadores de práticas e de
representações que podem ser objetivamente adaptadas a seu objetivo sem supor
que se tenham em mira conscientemente estes fins e o controle das operações
necessárias para obtê-los [...]. (BOURDIEU, 1980a, p. 88 apud CUCHE, 2002, p.
171)
Observando este conceito, compreendemos que nós possuímos
essas "disposições" através de modos de vida particulares e
condicionamentos próprios. No entanto, é o habitus
que diferencia uma classe ou grupo social dos outros que não corroboram com
suas características e condições sociais. Os estilos de vida usufruídos por um
grupo social determinado são, segundo Cuche (2002, p. 171-172), "a
expressão simbólica das diferenças inscritas objetivamente nas condições de
existência.”.
De acordo com o pensamento de Bourdieu (1980a, p. 88 apud
CUCHE, 2002, p. 172), "o habitus funciona
como a materialização da memória coletiva que reproduz para os sucessores as
aquisições dos precursores". Dessa forma, ele continua existindo no íntimo
da pessoa, pois o mesmo é tão interiorizado, que o individuo não percebe sua
manifestação. Sendo assim, ele faz com que os indivíduos de determinados grupos
atuem de forma semelhante diante da mesma situação, sem que precisem ao menos
se comunicar para tal. Desta feita, é o habitus
que orienta os indivíduos em seu espaço social e permite assim que adotem
"práticas que estão de acordo com sua vinculação social" (CUCHE,
2002, p. 172).
Ele torna possível para o
indivíduo a elaboração de estratégias antecipadoras que são guiadas por
esquemas inconscientes, 'esquemas de percepção, de pensamento e de ação' que
resultam do trabalho de educação e de socialização ao qual o indivíduo está
submetido e de "experiências primitivas" que a ele estão ligadas e
que têm um 'peso desmesurado' em relação às experiências posteriores. (Ibidem,
p. 172).
Devemos levantar também a questão de que o habitus está incorporado na memória
coletiva. Seriam as tais "disposições duráveis", que caracterizam o habitus também às disposições corporais,
chamada por Bourdieu de "hexis corporal". Em relação ao corpo, é o
que provoca em cada grupo social um estilo particular, porém, mais do que um
estilo próprio, é uma moral social incorporada nos sujeitos. (Ver Figura 10)
Cada pessoa, por seus gestos e suas
posturas, revela o habitus profundo que o habita, sem se dar conta e sem que os
outros tenham necessariamente consciência disso. Pela hexis corporal, as
características sociais são de certa forma "naturalizadas": o que
parece e o que é vivido como "natural" depende, na realidade de um
habitus. Esta "naturalização" do social é um dos mecanismos que
garantem mais eficazmente a perenidade do habitus. (Ibdem, p. 173).
A partir do momento em que o habitus se torna homogêneo em um grupo ou classe social, homogeneizando
assim os gostos, este torna também compreensível e previsível as preferências e
práticas que são consideradas evidentes dentro do grupo. E essas práticas
"evidentes" só se justificam pela interiorização do habitus.
Tal homogeneização não anula a diversidade dos estilos
pessoais, porém, de acordo com Bourdieu, as variantes individuais devem ser
percebidas como "variantes estruturais", pois elas evidenciam a
trajetória do individuo dentro desse contexto social.
A noção de "trajetória
social" permite que Bourdieu escape de uma concepção fixista do habitus.
Para ele, o habitus não é um sistema rígido de disposições que determinariam de
maneira mecânica as representações e as ações dos indivíduos e que garantiria a
reprodução social pura e simples. As condições sociais do momento não explicam
totalmente o habitus, que é suscetível de modificações. (Ibdem, p. 174).
Ainda assim, o habitus
é passível de modificações que devem ser levadas em consideração na hora de
analisá-lo, principalmente quando ocorre mobilidade social e desde que esta
tenha ocorrido em outras gerações e tenha sido também interiorizada.
Signo,
diálogo e ideologia
Volochínov
e Medviédiev, integrantes do Círculo do linguista Mikhail Bakhtin[5],
buscaram ao longo dos seus trabalhos contribuir para "a construção de uma
teoria marxista da criação ideológica" (FARACO, 2009, p. 45). Para os
integrantes do Círculo a palavra ideologia significava o universo dos produtos
feitos pelo "espírito" humano, chamados por alguns de "cultura
imaterial" ou "produção espiritual", enfim, tudo que unia a
arte, como a ciência, a filosofia, o direito, a religião, a ética e a política.
Para o Círculo, não havia
possibilidade de existir nenhum enunciado não-ideológico, pois o mesmo
compreendia que todo enunciado era um produto ideológico "em dois
sentidos: qualquer enunciado se dá na esfera de uma das ideologias [...] e
expressa sempre uma posição avaliativa." (Ibdem, 2009, p. 47)
Bakhtin afirma que tudo que é
ideológico tem um significado. Logo, todo produto ideológico é um signo e,
sendo assim, a criação ideológica se sustenta na semiótica (estudo dos signos):
"Sem signos não existe ideologia. [...] O domínio do ideológico coincide
com o domínio dos signos: são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se
encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo que é ideológico possui um
valor semiótico." (Ibdem, 2009, p. 30)
No que se refere à linguagem,
Bakhtin diz que esta não deve ser vista como um amontoado de categorias
gramaticais abstratas, mas, sim, como uma "realidade axiologicamente
saturada", como um acontecimento estratificado. E não somente um
"estratificado" estabelecido visivelmente através de variedades
geográficas, temporais e locais. Segundo ele, ao se encontrarem, essas vozes
sociais dialogam e essa dialogização compõe uma dinâmica importante: "elas
vão se apoiar mutuamente, se interiluminar, se contrapor parcial ou totalmente,
se diluir em outras, se parodiar, se arremedar, polemizar velada ou
explicitamente e assim por diante." (Ibdem, 2009, p. 58).
Os autores ressaltam que mais
importante que o diálogo são as forças sociais e as significações que os
enunciados trazem consigo. É o que eles chamam de "relações
dialógicas" ou "dialogismo". Esse dialogismo não é evidente
somente nos discursos, mas também na significação do enunciado, a partir da
interação verbal (FARACO, 2009). Sendo assim, todo enunciado colocado na mesma
posição, ou seja, com o mesmo sentido, estabelece relação dialógica:
"mesmo enunciados separados um do outro no tempo e no espaço e que nada
sabem um do outro, se confrontados no plano do sentido, revelarão relações
dialógicas." (FARACO, 2009, p. 65).
Segundo Bakhtin, as relações
dialógicas se estabelecem no interior dos enunciados. Entretanto, para que isso
ocorra é preciso que o diálogo tenha entrado na esfera do discurso e se tornado
um enunciado que "tenha fixado a posição de um sujeito social. Só assim é
possível responder [...], fazer réplicas ao dito, confrontar posições, dar
acolhida fervorosa a palavra do outro, confirmá-la ou rejeitá-la, buscar-lhe um
sentido profundo, ampliá-la." (Ibdem, 2009, p. 66). Em outras palavras: é
necessário estabelecer relações de sentido com a palavra do outro, relações
estas que provocam respostas a partir do encontro de posições avaliativas.
Desta feita, as relações dialógicas
são relações entre índices sociais de valor e são parte inseparáveis do
enunciado, compreendido não somente como parte da língua, mas como a "a
unidade da interação social; não como um complexo de relações entre as palavras,
mas como um complexo de relações entre as pessoas socialmente
organizadas." (Ibdem, 2009, p. 66).
Pode-se compreender que o diálogo,
no sentido amplo do termo, é um grande espaço de luta entre as vozes sociais e
nele emergem também os jogos de poder. Para o Círculo, trata-se de espaços de
tensão entre os enunciados, que não somente coexistem, mas se tencionam no
dialogismo. O processo de identificação também surge nessas relações
dialógicas, uma vez que a aceitação de um diálogo corresponde à recusa de outros
que não dialogam. (Ibdem, 2009).
Para Bakhtin, a vida humana é
naturalmente dialógica:
Viver significa tomar parte no diálogo: fazer
perguntas, dar respostas, dar atenção, responder, estar de acordo e assim por
diante. Desse diálogo, uma pessoa participa integralmente no decorrer de toda
sua vida: com seus olhos, lábios, mãos, alma, espírito, com seu corpo todo e
com todos os seus feitos. Ela investe seu ser inteiro no discurso e esse
discurso penetra no tecido dialógico da vida humana, o simpósio universal.
(BAKHTIN, 1963, p. 293 apud FARACO, 2009, p. 76).
Dessa forma, a não-existência
caracteriza-se pelo fato da pessoa não ser mais ouvida, reconhecida e nem
lembrada. Pois, conforme o autor, "ser significa se comunicar, significa
ser um para um outro e, pelo outro, ser para si mesmo [...] eu não posso me
arranjar sem um outro, eu não posso me tornar eu mesmo sem um outro; eu tenho
de me encontrar num outro para encontrar um outro em mim." (BAKHTIN, 1963, p. 287
apud FARACO, 2009, p. 76).
A importância do receptor do enunciado se faz na medida em
que ele constitui parte fundamental do discurso, que é carregado de outras
vozes sociais. Conforme ilustra Bakhtin, nós utilizamos as palavras que pegamos
dos lábios dos outros e não do dicionário. Dessa forma, os enunciados surgem a
partir do contato com o outro constituindo "uma multidão de vozes
interiorizadas", formando o que Bakhtin chama de "discurso
citado". Essa multidão de vozes normalmente não é percebida dessa maneira,
pois estão incorporadas nos sujeitos discursivos e são, na visão do autor,
"as palavras que perderam as aspas". (FARACO, 2009, p. 85).
A palavra tem grande força no estudo de Bakhtin (2009, p.
42), pois esta é considerada "um fenômeno ideológico por excelência".
A palavra é a força motriz da interação social e carrega consigo suas mudanças.
É pela palavra que se percebe a mudança nos discursos, falas estas que estão
carregadas de ideologias e que são perpassadas de uma para outra através dos
tempos. Como afirma Bakhtin, "cada época e cada grupo social têm seu
repertório de formas de discurso na comunicação sócio-ideológica” (2009, p.
44).
Discurso
e enunciado
De acordo com a teoria desenvolvida
por Mikhail Bakhtin, os gêneros de discurso são determinados
socio-historicamente e indissociáveis do processo de comunicação dos seres
humanos, resultando em formas-padrão "relativamente estáveis" de um
enunciado. (SIGNOR, 2008).
Bakhtin considera que o enunciado é a unidade real do
discurso. Por enunciado, entende que se trata de uma fala, que pode ser uma
palavra ou frase dotada de intenção. A "intenção" do enunciado é
convencer o outro, buscando provocar neste um retorno, uma resposta. Bakhtin
chama esse movimento de atitude
responsiva. Aqui, compreendemos atitude
responsiva como a ação de compreensão de um discurso de modo a elaborar uma
resposta, mesmo que esta resposta não esteja explicitada numa fala imediata.
A compreensão passiva das significações do
discurso ouvido é apenas o elemento abstrato de um fato real que é o todo
constituído pela compreensão responsiva ativa e que se materializa no
ato real da resposta fônica subsequente. (BAKHTIN, 1997, p. 290, grifo do autor).
No entanto, um ato de resposta não é necessariamente seguido
de um discurso, pois tanto o entendimento como a resposta podem ser
demonstrados por ações. Por exemplo, no caso uma ordem recebida, a resposta
pode ser simplesmente a execução desta, podendo transcorrer um tempo até a
execução da ação de fato. Este movimento é o que Bakhtin chama de compreensão responsiva de ação retardada.
Pode ocorrer também a compreensão muda de um discurso que
resulta numa mudança de comportamento em quem ouve, denominada por Bakhtin de compreensão responsiva muda. Nesse caso,
em algum momento, o que foi ouvido e compreendido de forma ativa reverberará no
discurso ou na conduta seguinte do ouvinte. Os gêneros secundários buscam esse
tipo de compreensão responsiva, ate mesmo pela sua característica complexa e,
em suas devidas proporções, vale tanto para o discurso lido ou para o escrito. (BAKHTIN,
1997, p. 290). Essa atitude também é a esperada quando se trata de discursos
publicados na web, pois, mesmo que esses abram também espaço para uma resposta
imediata, a intenção por trás desses enunciados é provocar uma mudança de
comportamento no receptor do discurso.
Como o autor afirma, as possibilidades de respostas a um
discurso são tão vastas quanto à variedade de gêneros discursivos. A intenção
em tornar o texto compreensível é somente um dos elementos da intenção
discursiva de modo geral. No ato discursivo, o próprio locutor já está
produzindo uma resposta a outros discursos nos quais "seu próprio
enunciado está vinculado por algum tipo de relação (fundamenta-se neles,
polemiza com eles), pura e simplesmente ele já os supõe conhecidos do ouvinte.”
(BAKHTIN, 1997, p. 291).
A fala de uma pessoa só existe de fato através de seus
enunciados e seu discurso é moldado para isso, pertencendo ao sujeito falante e
não existindo fora desse contexto.
Quaisquer
que sejam o volume, o conteúdo, a composição, os enunciados sempre possuem,
como unidades da comunicação verbal, características estruturais que lhes são
comuns, e, acima de tudo, fronteiras claramente delimitadas. E neste
problema das fronteiras, cujo princípio é essencial, que convém deter-se com
vagar. As fronteiras do enunciado concreto, compreendido como uma unidade da
comunicação verbal, são determinadas pela alternância dos sujeitos falantes,
ou seja, pela alternância dos locutores.
(BAKHTIN,
1997, p. 293-94).
De acordo com
o autor, todo enunciado, desde uma palavra até o romance ou texto científico,
abarca um "começo absoluto e um fim absoluto": antes de seu início
existe o enunciado dos outros e, depois que acaba, existe os
enunciados-respostas dos outros (ainda que seja uma compreensão responsiva
ativa ou muda).
O locutor
termina seu enunciado para passar a palavra ao outro ou para dar lugar à
compreensão responsiva ativa do outro. O enunciado não é uma unidade
convencional, mas uma unidade real, estritamente delimitada pela alternância
dos sujeitos falantes, e que termina por uma transferência da palavra ao outro,
por algo como um mudo “dixi” percebido pelo ouvinte, como sinal de que o
locutor terminou. (BAKHTIN, 1997, p. 294).
Bakhtin aponta três fatores intimamente ligados ao enunciado
como um todo: 1) o tratamento exaustivo do objeto do sentido; 2) o intento, o querer-dizer do locutor; e 3) as formas
típicas de estruturação do gênero do acabamento (BAKHTIN, 1997, p. 299).
O primeiro fator diz respeito à forma como o objeto será
abordado pelo autor de acordo com o objetivo a ser alcançado, ou seja, a
resposta que se espera obter. Este está relacionado com o segundo fator, que
"o que se quer dizer". Essa intenção intrínseca no enunciado vai
definir também a forma como este será apresentado
Em qualquer enunciado, desde a
réplica cotidiana monolexemática até as grandes obras complexas científicas ou
literárias, captamos, compreendemos, sentimos o intuito discursivo ou o querer-dizer
do locutor que determina o todo do enunciado: sua amplitude, suas
fronteiras. Percebemos o que o locutor quer dizer e é em comparação a
esse intuito discursivo, a esse querer-dizer (como o tivermos captado) que
mediremos o acabamento do enunciado. Esse intuito determina a escolha, enquanto
tal, do objeto, com suas fronteiras (nas circunstâncias precisas da comunicação
verbal e necessariamente em relação aos enunciados anteriores) e o tratamento
exaustivo do objeto do sentido que lhe é próprio. (BAKHTIN, 1997, p. 300, grifo do autor).
Esse conceito do querer-dizer
alinha-se com a ideia de identidade apresentada anteriormente no que se
refere ao objetivo a ser atingido com a fala. Neste objetivo, espera-se cooptar
com o discurso e promover o sentimento de identidade com o interlocutor. Isso
se dá porque a fala apresenta identidade e é através do discurso que o locutor
sinaliza onde reside sua ideologia.
O terceiro fator determinante são as formas estáveis do
gênero do enunciado. Quando o locutor escolhe o gênero do discurso já o faz a
partir do que se quer dizer. Essa escolha é feita de acordo com a
especificidade do canal de comunicação utilizado, a temática necessária, dos
receptores do discurso etc. Adiante, a intenção do discurso adapta-se e se
ajusta a esse gênero escolhido, sendo composto e desenvolvido nesse formato sem
que o autor abdique de sua individualidade, já que, como dito, todo discurso
carrega uma ideologia. (BAKHTIN, 1997, p. 300).
Bakhtin (1997, p. 314) diz que a experiência verbal
particular do ser humano toma forma e amadurece de acordo com a sua relação com
o outro, na forma de interação sucessiva e constante com os enunciados alheios.
Usada de forma criativa, essa experiência pode ser definida como sendo um
processo de assimilação do discurso
do outro e não necessariamente das palavras da língua.
Nossa fala,
isto é, nossos enunciados (que incluem as obras literárias), estão repletos de
palavras dos outros, caracterizadas, em graus variáveis, pela alteridade
ou pela assimilação, caracterizadas, também em graus variáveis, por um emprego
consciente e decalcado. As palavras dos outros introduzem sua própria
expressividade, seu tom valorativo, que assimilamos, reestruturamos,
modificamos. A expressividade da palavra isolada não é pois propriedade da
própria palavra, enquanto unidade da língua, e não decorre diretamente de sua
significação. Ela se prende quer à expressividade padrão de um gênero, quer à
expressividade individual do outro que converte a palavra numa espécie de
representante do enunciado do outro em seu todo—um todo por ser instância determinada
de um juízo de valor. (BAKHTIN, 1997, p. 300).
A partir de então, pode-se analisar o processo de
significação do discurso, tendo em vista que os agentes que compõem um
enunciado são "a entonação expressiva, a modalidade apreciativa sem a qual
não haveria enunciação, o conteúdo ideológico, o relacionamento com uma
situação social determinada [...]". (YAGUELLO, 2009, p. 15). Assim sendo,
pode-se interpretar o enunciado tendo em vista a continuidade do processo de
comunicação como um elemento do diálogo, incluindo as produções escritas.
Sabendo que "o corpus transforma
as enunciações em monólogos", ou seja, que o texto é uma fala individual
do autor (ainda que suscite a responsividade), chegamos à conclusão de que é o
enunciado é quem produz um diálogo com o interlocutor.
Isso se dá porque a enunciação é de natureza social e
representa uma reprodução do diálogo social. Ela não existe fora dessa
conjuntura, pois tem em vista que o locutor busca uma "plateia". Da
mesma maneira como foi estipulado na 1ª das cinco leis de Ranganatan para a
Biblioteconomia que “os livros são escritos para serem lidos”, todo enunciado
busca um interlocutor, mesmo que somente em potencial.
“O signo e a situação social estão indissoluvelmente
ligados.” Ora, todo signo é ideológico. Os sistemas semióticos servem para
exprimir a ideologia e são, portanto, modelados por ela. A palavra é o signo
ideológico por excelência; ela registra as menores variações das relações
sociais, mas isso não vale somente para os sistemas ideológicos constituídos,
já que a “ideologia do cotidiano”, que se exprime na vida corrente, é o cadinho
onde se formam e se renovam as ideologias constituídas. (YAGUELLO, 2009, p. 16)
O processo de formação da linguagem está ligado a atividade
mental e o pensamento, e este último é determinado pela ideologia. Para
Bakhtin, a palavra está atrelada à ideologia, pois ela "é uma
superestrutura, as transformações sociais da base refletem-se na ideologia e,
portanto, na língua que as veicula." (YAGUELLO, 2009, p. 16). Logo, compreendemos que a palavra serve como
indício de mudança.
ANÁLISES E RESULTADOS
Tendo em vista que o enunciado é a unidade central do
discurso e todo discurso traz consigo sua ideologia, podemos analisar os
enunciados com vistas à análise das forças sociais por ele provocadas, suas
dimensões de valor (axiologias) e a dialogicidade presente nesses contextos.
Esses fatores evidenciam as relações de memória e identidade presente nos
discursos e, consequentemente, sua ideologia.
Assim, as imagens a seguir foram analisadas de acordo com os
conceitos apresentados.
Fonte: Facebook Moça você é
machista, 2013
A figura 1 representa um protesto realizado na pagina do
Facebook "Moça, você é machista" onde as pessoas, em sua maioria
mulheres, revoltaram-se contra um projeto de lei que impunha a proibição do
aborto mesmo em caso de estupro a fim de garantir a proteção integral do
nascituro fruto deste ato. O projeto assegurava também uma ajuda de custo do
governo à gestante e a inserção do nome do estuprador na certidão de nascimento
da criança. Além disso, pleiteava a proibição do uso de embriões das pesquisas
com células-tronco. Em 2013, devido à repercussão deste projeto de lei,
manifestações contrárias a ele ganharam força tanto nas "manifestações de
Junho", como nas redes sociais e em paginas feministas.
Lê-se no cartaz: "O
corpo é MEU! Os direitos, as escolhas e
decisões TAMBÉM! Não ao Estatuto do Nascituro". Nesta fala, onde a mulher
busca autonomia sobre o próprio corpo, recorre-se à questão da responsividade
no sentido de que o discurso presente já é uma resposta ao discurso impresso
pelo "Estatuto do Nascituro". Esta fala também se refere à questão da
relação entre "cultura dominante" e "cultura dominada"
(CUCHE, 2002), configurando um ato de resistência à dominação imposta pela
ideologia machista que, diga-se de passagem, torna a possibilidade de
subordinar muito mais eficiente quando tratada em forma de Lei.
Quando a mulher se revolta contra sua posição de subordinada,
afirmando que "O corpo é MEU!" de forma taxativa, com o uso de letras
em caixa alta, exclamações, sublinhados etc, ela se vale de signos linguísticos
para assumir uma posição de confronto, emergindo nesse confronto a luta de classes.
Conforme afirma Bakhtin, "O signo se torna a arena onde se
desenvolve a luta de classes". (2009, p. 47)
Figura 2 – Meu corpo, minhas
regras
Fonte Internet, 2013
No discurso feminista, a questão do direito ao próprio corpo
é pauta recorrente dos manifestos, como podemos ver na Figura 2: a imagem de
uma mulher nua da cintura pra cima com a frase "MEU COrPO, MINHAS
REGrAS" escrita em suas costas. Tal imagem pressupõe uma compreensão
responsiva ativa, pois se trata de uma publicação numa rede social em que o
público receptor possui meios de resposta dinâmicos – as opções
"curtir", "comentar", "compartilhar" – e, também,
a compreensão responsiva muda, onde a resposta se dá numa mudança de
comportamento do receptor (BAKHIN, 1997).
Vê-se nesta imagem um exemplo de compreensão responsiva ativa
pois, em nossa análise, algumas pessoas respondem diretamente à imagem impressa
pela emissora do discurso com intuito de criticar sua postura, logo, criticar o
"discurso feminista". Pode-se observar também nessa resposta direta o
conflito entre as ideologias feministas e machistas e, mais, a relação
dialética que se dá nos enunciados. Enquanto a mulher clama pela emancipação do
corpo feminino, a pessoa que a responde (no caso, um homem) busca através do
discurso incisivo, e até falacioso, convencer a emissora (e outras pessoas) de
suas ideias, ideias estas que correspondem à ideologia da cultura dominante.
Outra questão que vem à tona na imagem é a questão
"identitária". O ato de resposta revela a busca por se distinguir (ou
não) do discurso que o enunciado imagético produz. Tendo em vista as
funcionalidades ressaltadas da rede social Facebook, pode-se considerar que o
ato de "curtir" as postagens representa uma identificação positiva
com o conteúdo postado. No entanto, os comentários não indicam necessariamente
a mesma intenção, uma vez que a pessoa pode se identificar de forma negativa e
se colocar contra o material publicado, revelando isso no seu comentário, como
podemos ver na figura acima.
Quando a mulher retratada na imagem escreve em seu corpo um slogan feminista, ela automaticamente
está se identificando com a causa, assim como o autor do comentário mostra-se
abertamente contra ao afirmar que "sinceramente, odeio algumas
feministas". Ou seja, o que o autor busca com tal comentário é evidenciar
a dessemelhança (não-identidade) em relação ao feminismo. Logo, no atual
contexto, cabe a afirmação de Cuche (2002) que diz que toda identificação é ao
mesmo tempo diferenciação.
A identidade como vimos é flexível, ela pode ser adaptada de
acordo com o que mais convém a pessoa, principalmente quando essa
flexibilização é encarada como um processo de reinvenção histórica do sujeito.
(BAUMAN, 2005). Pode-se dizer que o feminismo se vale dessa flexibilidade identitária na
medida em que, por meio do discurso, busca promover entre as mulheres essa
identificação quanto à causa e, ao mesmo tempo, uma diferenciação em relação ao
machismo.
Figura 3 – Feminismo e
Sororidade
Fonte: Facebook Feminismo
Subversivo, 2013
Fonte:
Facebook Feminismo sem demagogia, 2013
Podemos trazer à discussão o pensamento de Bakhtin (2009),
tratado anteriormente no que se refere ao processo de assimilação dos discursos
alheios e o processo de significação dos discursos. Nas figuras 3 e 4, podemos
ver o uso da "entonação expressiva, a modalidade apreciativa"
(BAKHTIN, 2009, p. 18) na utilização de afirmações assertivas a fim de com elas
provocar nas mulheres um sentimento de identidade através do discurso.
Na figura 3, especificamente, podemos ver a utilização de
palavras que buscam promover na mulher a sensação de que, no feminismo, ela
pode ser ouvida e tem sua autonomia respeitada. Por exemplo, a palavra que dá o
título à tirinha, "sororidade". significa
um pacto de fraternidade entre
as mulheres que se reconhecem irmãs. É aliar-se, partilhar e principalmente
mudar (e mudar-se) a sua própria realidade como mulher se libertando das
diferentes opressões a que somos sujeitas. Nada mais é, que uma dimensão ética,
política e prática do feminismo contemporâneo. (GORI, Marcia, 2013)
A
união entre enunciado textual e imagético na figura 4 – uma mulher com uma
tatuagem que representa a luta feminista – tem um alvo especifico, pois, como
Bakhtin assegura, todo enunciado busca um interlocutor a fim de transmitir para
ele (no caso ela) sua ideologia e o sentimento de identidade. Em seguida, pode
ser visto que é através da linguagem e da recuperação de uma memória social que
a luta feminista se fortalece na web. A seguir veremos como os conceitos de
discurso e ideologia são indissociáveis da linguagem.
Figura 5 –
Seu corpo te pertence Figura
6- Meu respeito, meu direito
Como foi apontado no referencial teórico da pesquisa, a
memória social é um instrumento de perpetuação de ideologia que se utiliza da
linguagem e, por consequência, do discurso. Possivelmente, a maioria das
pessoas, principalmente mulheres, conhece expressões como “a mulher deve se dar
ao respeito” ou “mulher precisa se dar ao respeito pra ser respeitada”, entre
outras semelhantes. Essa questão da imagem de “respeito” que a mulher deve
passar é amplamente debatida nas publicações feministas na internet como está exemplificado
nas figuras 5 e 6.
O enunciado das imagens revela a questão da luta entre a
memória individual e a memória dos outros, tratada por Pollak (1992). É na
afirmação de que o corpo e o respeito por este pertence ao individuo que o
conflito entre a memória individual e a coletiva fica evidente. Ambas as
figuras também produzem uma atitude responsiva ao tipo de discurso considerado
machista, uma vez que idealiza a mulher e retira dela sua autonomia. Podem-se
analisar as imagens como uma ação responsiva ativa e ação responsiva muda, pois
ao mesmo tempo em que é uma resposta em si, busca através do discurso promover
uma mudança de comportamento e mentalidade do receptor.
Portanto, pode-se dizer que as duas figuras dialogam com a
memória social do machismo e pretendem romper com a cultura dominante em busca
de autonomia nas suas escolhas. Na figura 5, pode ser ressaltada também a
objetividade do discurso como visto em Bakhtin, uma vez que promove o
dialogismo entre o enunciado e o interlocutor. Outro assunto que também iremos
ver nas próximas imagens.
Em 2013, a jornalista Karin Huek realizou uma pesquisa online com 7.762 mulheres e revelou que
83% das entrevistadas não gostam de receber as famosas “cantadas” dos homens
nos espaços públicos. A partir dessa pesquisa, foi promovida na internet a
campanha “Chega de fiu-fiu”. Esta tinha o intuito de combater essa prática e
ganhou bastante repercussão nas redes sociais. As figuras 7 e 8 ilustraram
parte da campanha.
Pode-se afirmar que o feminismo pretende alcançar uma mudança
de mentalidade e comportamento da sociedade, ou seja, uma mudança de ideologia,
e, como vimos, tal mudança reflete-se no discurso. Quando a campanha afirma que
“caminhar num espaço público não torna meu corpo público”, ela provavelmente
quer dizer (BAKHTIN, 1997) que o corpo feminino não deveria ser visto como algo
que possa ser abordado, tocado, violado, invadido. Ele é privado e deve ser
encarado e respeitado como tal.
Quando, na imagem 8, o enunciado afirma que “você acha que
gritar ‘ô gostosa’ na rua é elogio, sua mãe não”, este tem como alvo a pessoa
que pratica o ato da “cantada” com o intuito de provocar nela o sentimento de
identidade, evidenciando o incômodo causado com tal atitude. Ao se colocar no
lugar do outro, no caso, outra, espera-se a compreensão
responsiva muda que resulta em mudança de atitude.
Por fim, analisaremos o conceito de habitus. Este conceito engloba praticamente todos os conceitos
elaborados na pesquisa, uma vez que a internalização da cultura e da memória coletiva
nos sujeitos podem passar despercebida (CUCHE, 2002). Um bom exemplo de
internalização da memória e da cultura dominante machista é a propaganda. Como
vimos com Adorno e Horkheimer, ela difunde e legitima o estilo de vida e visão
de mundo de determinada cultura.
Figura
9 – Bebedouro de Skol
Fonte: Facebook Moça, você é machista, 2013
Na imagem acima podemos perceber o habitus na objetificação do corpo
feminino. Nela podemos observar que a função tanto do bebedouro quanto da
mulher é, basicamente, satisfazer aos desejos sexuais masculinos. Ele se
evidencia no padrão estético da modelo, no ato realizado por ela, na sua
vestimenta e no enunciado textual da imagem.
Figura 10 – Homens no comando
Na figura 10, podemos ver o exemplo do habitus se manifestando em vários níveis: na postura de comando e
no protagonismo dos homens na cena. Nela, os homens aparecem em primeiro plano
da imagem. Ainda podemos observar o caráter de subordinação das duas figuras
femininas em segundo plano (assim como a representação estética destas, que se
encontra dentro do padrão de beleza hegemônico-dominante) e a ideia de que o
homem que consome tal produto é um líder ou um comandante. Essas condições se
manifestam nos corpos, nas posturas, nos gestos etc.
A memória que a imagem evoca também pode ser ressaltada, pois
remete a uma instituição extremamente masculinizada: a das forças armadas. O habitus conforme visto está carregado de
uma memória coletiva que se evidencia no corpo da pessoa de forma internalizada
e que seria o que Cuche (2002) denomina como "uma moral social incorporada
nos sujeitos". Os gestos e a postura evidenciam o habitus da pessoa ou do grupo e estas incorporações são
naturalizadas a tal ponto que fazem com aquele se torne eficaz e passe incólume
pela maioria das pessoas.
Contudo, o habitus
pode ser modificado desde que passe de geração em geração e se internalize.
Como se pode perceber na pesquisa, é a internalização e a identificação dos
diferentes habitus perpetuados pela
cultura machista dominante que o feminismo busca corromper, mesmo que de forma
inconsciente, com seu discurso nas redes sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho investigou o discurso feminista nas redes
sociais, analisando as imagens publicadas nas páginas e sites com essa
temática, observados os possíveis processos identitários e redes de memória que
ocorreram nessas publicações. A partir das análises e resultados, pudemos
perceber que o movimento feminista se vale constantemente de recursos de
memória para provocar nas pessoas processos identitários e, consequentemente,
uma diferenciação com a cultura machista.
O fortalecimento da figura feminina através do discurso é um
método recorrente do movimento que busca tornar as mulheres independentes e
livres para fazerem suas escolhas. Para tanto, é necessário uma quebra com a
cultura dominante e o reforço constante da identidade, tendo em vista que a
dominação está consolidada nas mídias, nas políticas, nas relações sociais e em
outros campos do viver.
Além de direitos políticos, o movimento feminista busca
internalizar nas mulheres essa força e autonomia através do discurso que visa
provocar a mudança social necessária. Pode-se constatar na pesquisa a
hipótese de que a web e, especialmente, as redes sociais, são potentes
catalisadoras das ideias do feminismo. A partir delas, o feminismo se expande e
ganha cada vez mais adeptos e, naturalmente, mais críticos.
Além da questão da memória e identidade, a pesquisa propiciou
o contato com os conceitos bakhtinianos de alteridade, dialogismo,
responsividade e gêneros discursivos. Tal contato permitiu observar a
materialização desses conceitos nas publicações da web. Por parte da
pesquisadora, a maior dificuldade encontrada no trabalho foi manter-se
imparcial no que se refere ao feminismo. Se tal dificuldade foi superada,
acredita-se que foi na medida em que a mesma não buscou realizar um novo
manifesto feminista, tampouco panfletar, mas, sim, analisar o discurso
realizado pelos diferentes movimentos feministas no espaço virtual.
Acima de tudo, foi possível, através da pesquisa e do
desenvolvimento do trabalho, fortalecer os conceitos de "análise do
discurso", "memória" e "identidade", conceitos que
certamente serão aplicados ao longo da tão esperada trajetória profissional e acadêmica.
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YAGUELLO, Marina.
Introdução. In: BAKHTIN, Mikhail. Marxismo
e filosofia da linguagem. 13.
ed. São Paulo: Hucitec, 2009. p. 11-19.
[1] A lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) "cria mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do
art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código
de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal." (BRASIL,
2006)
[2] “Dupla moral é o
termo utilizado para designar a coexistência simultânea de duas morais opostas
dentro do mesmo indivíduo ou da mesma instituição. Neste caso, a dupla moral
refere-se ao tratamento desigual conferido aos homens e mulheres.” (TÁBOAS,
2011)
[3] Assim denominado o movimento
das mulheres pelo direito ao voto, iniciado nos EUA, em 1848.
[4] Polemologia é estudo da guerra como fenômeno social autônomo;
análise de suas formas, causas, efeitos etc. (GARCIA, 2011)
[5] O Círculo de Bakhtin era formado por um pequeno grupo de
intelectuais e artistas entre eles Marc Chagall e o musicólogo Sollertinsky,
amigo íntimo de Chostakovitch. Também fazia parte deste círculo um jovem
professor do Conservatório de Música de Vitebsk, V. N. Volochínov, e ainda P.
N. Medviédiev, empregado de uma casa editora. Os dois tornaram-se alunos,
amigos devotados e ardorosos admiradores de Bakhtin. (YAGUELLO, 2009, p. 12)
[6] O Estatuto do Nascituro é um projeto de lei brasileiro de 2005 que
visa garantir proteção integral ao nascituro. Foi proposto pelos deputados
Osmânio Pereira e Elimar Máximo Damasceno. O projeto também pode proibir a
pesquisa com células tronco embrionárias no país. O projeto foi arquivado em 31
de janeiro de 2007. No entanto, está tramitando outro projeto de lei semelhante
de 2007. Tais projetos de lei têm sido alvo de muitas discussões e críticas,
principalmente por resultar na proibição do aborto, em qualquer situação, pois
considera que a vida humana surge desde a concepção. (WIKIPEDIA, 2014; BRASIL,
2007)
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