terça-feira, 23 de setembro de 2014

“MEU CORPO MINHAS REGRAS”: UMA ANALISE DO DISCURSO FEMINISTA NA INTERNET


Sylvia Pessoa de Almeida


Feminista
Formada em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação 
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Contato: sylviapessoa@gmail.com


RESUMO
As mulheres, em diversos momentos da história ocidental, lutaram contra sua condição de opressão, ainda que de forma isolada. No entanto, o feminismo só surgiu como um movimento organizado por volta dos séculos XVIII e XIX, inicialmente com a intenção de conquista de direitos políticos e de oportunidade de trabalho. Com o decorrer da história e do desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação as ideias feministas puderam ser transmitidas a um numero maior de pessoas. Através do discurso e utilizando-se de redes de memória e identidade, o feminismo busca cooptar cada vez mais adeptos. A web e, especialmente, as redes sociais contribuem sobremaneira pra expansão do feminismo, pela capacidade de atingir um grande público. A pesquisa objetiva a resposta de como se dá essas relações entre ideologia e identidade nas publicações feministas da web. Assim como busca evidenciar a relação dialógica e responsiva entre os enunciados imagéticos publicizados e, dessa forma, estabelecer a relação entre memória e identidade nesse contexto. A metodologia utilizada para alcançar os objetivos propostos foi qualitativa, alinhado aos conceitos de ideologia, discurso e linguagem trabalhados por Mikhail Bakhtin, evocando as relações de memória e identidade vistas com Michael Pollak, entre outros. A coleta de dados foi realizada por meio da pesquisa exploratória, e a partir dessa coleta foi realizada a análise do discurso à luz dos conceitos apresentados. A análise e os resultados obtidos evidenciaram as relações dialógicas, responsivas e de transmissão de discurso que resultam das ferramentas oferecidas pelo mundo virtual. Percebeu-se também que a evocação da memória social é necessária para criar o processo identitário com o feminismo no receptor do enunciado. Por fim, conclui-se que o discurso feminista na web pretende alcançar, além de direitos políticos, a internalização de que as mulheres possuem força e autonomia para provocar a mudança social necessária a fim de romper com a ideologia dominante machista.

Palavras-chave: Analise do discurso. Memória. Identidade. Enunciado. Feminismo.

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Introdução

O Feminismo é um movimento social que luta pela equidade de direitos entre homens e mulheres. Surgiu entre os séculos XVIII e XIX e vem ganhando bastante força nas ultimas décadas. Deve-se considerar que, a partir de sua luta, as mulheres conquistaram diversos avanços como o direito ao voto, o acesso à educação, saúde e previdência social, a invenção da pílula anticoncepcional, a lei Maria da Penha[1], dentre outros.

Com o advento das redes sociais, a luta feminista pode usufruir de outras ferramentas de combate. Com o acesso às novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), sua luta pode ser intensificada de forma mais democrática e popular. Tal movimentação busca não só a conquista de novos direitos, como também a mudança da ideologia dominante – que tem sua base no machismo e no patriarcado, a conquista da autonomia feminina e a liberdade da expressão de gênero.

Para tanto, o movimento feminista se vale da internet e das redes sociais para criar nas pessoas um sentimento de identidade e pertencimento com a causa, pois, como será visto mais adiante, a identidade é algo que pode ser construído e reconstruído de acordo com as escolhas do individuo. (POLLAK, 1997). Através da construção da memória social e da identidade, a linguagem utilizada pelas redes sociais permite que a ideologia seja transmitida de forma pontual e acessível.

Esse projeto tem por objetivo geral a realização de uma analise do discurso feminista na web. Dentre seus objetivos específicos, busca evidenciar a relação dialógica e responsiva entre os enunciados imagéticos publicizados e, dessa forma, estabelecer a relação entre memória e identidade nesse contexto.

 Feminismo

No ano de 625 a.C, na Grécia Antiga (mais especificamente na Ilha de Lesbos), liderada pela filósofa Safo, consta o registro de uma movimentação feminista que foi responsável pela criação de um centro de formação intelectual da mulher. No ano de 195 a.C, em Roma, registra-se reivindicações de mulheres pelo direito de usarem os transportes coletivos. E data de 1405, o que se considera hoje o primeiro tratado feminista, feito pela primeira poetisa da corte francesa, Christine de Pisan, e intitulado “A cidade das mulheres”. Neste tratado, afirma-se a igualdade entre homens e mulheres, reivindicando os mesmos direitos de educação e condenando a dupla moral[2] que acometia a vida das mulheres. (TÁBOAS, 2011). Observa-se, portanto, que mulheres se rebelando contra sua condição de opressão não é algo tão recente na história ocidental.

Tal movimentação é chamada pela teoria feminista de pré-feminismo. Contudo, o Feminismo só ganha forma como um movimento organizado entre os séculos XIX e XX. Este movimento é chamado de primeira onda do feminismo e se manifestou em vários momentos da Era Moderna. Porém, podemos afirmar hoje que foi na Pós-Modernidade que ele se fortaleceu, trazendo a segunda e terceira ondas do movimento feminista.

A primeira onda, que caracteriza o nascimento do feminismo de fato, nasceu como um “movimento liberal de luta das mulheres pela igualdade de direitos civis, políticos e educativos, direitos que eram reservados apenas aos homens.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649). Foi a partir de uma reivindicação política – o direito ao voto, com o Movimento Sufragista[3] – que o feminismo se fez presente na Europa e nos Estados Unidos. O feminismo possuía também outros intuitos como a luta contra a discriminação feminina e a denúncia da “opressão à mulher imposta pelo patriarcado” (Ibdem, 2006).  No Brasil, o movimento se fez presente no fim do século XVIII e inicio do século XIX, quando as brasileiras começaram a se organizar e conquistar o direito à educação e ao trabalho.

Em 1907, eclode em São Paulo a greve das costureiras, ponto inicial para o movimento por uma jornada de trabalho de 8 horas. Somente em 1917, o serviço público passa a admitir mulheres no quadro de funcionários. Dois anos depois, a Conferência do Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho aprova a resolução de salário igual para trabalho igual. (PORTAL BRASIL, 2013)

Em 1932, as brasileiras conquistam legalmente o direito ao voto com o Código Eleitoral, porém, com uma série de restrições para seu exercício. Foi só com a Constituição de 1946 que o direito pleno ao voto foi concedido. Em 1934, a Assembleia Constituinte assegurava o princípio de igualdade entre os sexos, o direito ao voto, a regulamentação do trabalho feminino e a equiparação salarial entre os gêneros. (PORTAL BRASIL, 2013)

Com a ditadura do Estado Novo, em 1937, o movimento feminista perde força. Só no fim da década seguinte volta a ganhar intensidade com a criação da Federação das Mulheres do Brasil e a consolidação da presença feminina nos movimentos políticos. Mas, com a ditadura militar impetrada em 1964, as ações do movimento esfriam e só retornam na década de 70, principalmente como forma de combate à ditadura. (PORTAL BRASIL, 2013)

As décadas de 1960 e 1970 trazem consigo a chamada “segunda onda" do movimento feminista, ocorrida especialmente nos EUA e na França. As feministas americanas ressaltavam a denúncia da opressão masculina e buscavam a igualdade entre os gêneros, o que foi chamado de “feminismo da igualdade”. Já as feministas francesas não negavam a existência de diferenças entre os sexos, afirmando que, no entanto, tais diferenças não deveriam significar discriminação nem a anulação da experiência feminina. Este movimento foi denominado como “feminismo da diferença”.

Para Scott (2005), a questão da igualdade e da diferença deve ser concebida em termos de paradoxo, ou seja, em termos de uma proposição que não pode ser resolvida, mas apenas negociada, pois é verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Fraisse (1995) entende que à questão filosófico-epistemológica da igualdade-diferença sobrepõe-se a questão política, sugerindo que diferentes subjetividades, masculinas e femininas, mesmo não sendo idênticas, podem ser iguais, no sentido de serem equivalentes. Introduz-se, assim, a noção de equidade e paridade no debate igualdade-diferença dentro dos movimentos feministas. (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649)

Foi nessa época também que o movimento feminista voltou a ganhar força no Brasil, devido a sua repercussão na Europa e nos EUA como forma de luta contra a ditadura militar. Paralelamente, as ditaduras militares que ocorriam em outros países da América Latina também influenciavam o movimento por aqui. A partir desses contextos, o ano de 1975 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher.

Nos anos 1980, com o inicio da Era Pós-Moderna e a partir dos pensamentos pós-estruturalistas que predominava na França, que tinham como representantes os filósofos Michel Foucault e Jacques Derrida, passa-se a "enfatizar a questão da diferença, da subjetividade e da singularidade das experiências, concebendo que as subjetividades são construídas pelos discursos, em um campo que é sempre dialógico e intersubjetivo.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649). Cabe a ressalva de que é esta ideia que permeará também a presente pesquisa sobre analise do discurso feminista atual na web, como poderá ser visto adiante. Tal pensamento fez eclodir a terceira onda do feminismo, por volta dos anos de 1990, que se caracteriza pela “análise das diferenças, da alteridade, da diversidade e da produção discursiva da subjetividade.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649). 

É nessa conjuntura que surge no Brasil a publicação Estudos Feministas, que tem como foco principal o estudo das e pelas mulheres e como desafio “o pensamento sobre igualdade e a diferença na constituição das subjetividades masculina e feminina.” (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 649). Nessa fase do movimento, foi possível observar o cruzamento entre o movimento político das ativistas feministas e a academia, surgindo em algumas universidades brasileiras estudos de gênero e feminismos.

É preciso, contudo, entender que as três fases do movimento não ocorreram exatamente de forma linear ao longo da história. Em diversas épocas, características das três ondas coexistiram – e ainda coexistem na atualidade. Portanto, o recorte histórico é feito com a intenção de melhor contextualizar o movimento.

Desta forma, pode-se demonstrar a conceituação do feminismo como sendo “uma filosofia que reconhece que homens e mulheres têm experiências diferentes e reivindica que pessoas diferentes sejam tratadas não como iguais, mas como equivalentes” (FRAISSE, 1995; JONES, 1994; LOURO, 1999; SCOTT, 1986 apud NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 648). Entretanto, cabe ressaltar que existem no feminismo várias vertentes (feminismo radical, feminismo liberal, transfeminismo, feminismo negro, feminismo interseccional etc) e ele se manifesta em variadas formas, não cabendo à pesquisa definir um "conceito padrão" de feminismo.

Memória e Identidade

A memória é comumente vista como um fenômeno particular e íntimo, próprio da pessoa. No entanto, lembrando o pensamento de Maurice Halbwachs, Pollak nos diz que a memória também deve ser entendida como uma construção "coletiva e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes." (POLLAK, 1992, p.201). Diz ele que a memória é seletiva e que, como não é possível registrar tudo, ela seleciona o que é mais significativo ou oportuno de ser preservado. Assim como também afirma que, em parte, a memória é herdada no contexto familiar e social onde ela esta inserida.

De acordo com o que afirma o autor, a memória também tem grande contribuição na construção da identidade, tendo em vista que é constituída social e individualmente. Quando se trata de memória herdada, pode-se dizer que há uma relação muito próxima ao sentimento de identidade.

Aqui o sentimento de identidade está sendo tomado no seu sentido mais superficial, mas que nos basta no momento, que é o sentido da imagem de si, para si e para os outros. Isto é, a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que ela constrói e apresenta aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação, mas também para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros. (POLLAK, 1992, p.204)

É sob esse aspecto que a pesquisa baseará o entrecruzamento do discurso feminista com o que concerne à busca da memória do patriarcado ou, em outras palavras, da luta feminista com o discurso machista perpetuado ao longo dos tempos.

Como a evocação desses discursos busca atingir as pessoas a fim de provocar nelas o sentimento de identidade com o feminismo e, como consequência, a diferenciação com o machismo e o patriarcado? Conforme afirma Pollak:

[...] Podemos, portanto, dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si. (1992, p. 204)

Se a memória é um elemento da identidade social e ela é formada através da imagem "de si, para si e para os outros", essa mesma é, em parte, formada por forças alheias à vontade do indivíduo, ou do grupo, que é o Outro. Todos constroem sua identidade em referência aos outros,

[...] em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com outros. Vale dizer que memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um grupo. (POLLAK, 1992, p. 204)

A existência da luta interna entre memória individual e memória dos outros evidencia que “a memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos.” (POLLAK, 1992, p. 205).

No que se refere à identidade, Cuche (2002) aponta que esta pode ser entendida como um processo de construção histórica e, em certa medida, mais como uma posição estratégica do que como uma posição estanque. Afinal, a identidade é um meio para a pessoa chegar a um objetivo especifico, onde ela avalia a situação exposta e utiliza os recursos identitários que possui. Bauman (2012, p.13) parece apontar para a mesma linha de pensamento ao afirmar que “a identidade deve ser considerada um processo contínuo de redefinir-se e de inventar e reinventar sua própria história”.

Percebe-se assim que a identidade geralmente é bastante volátil e, portanto, frágil, exigindo um exercício constante onde precisa ser defendida e protegida. Caso contrário se perde e, uma vez perdida, dificilmente será possível sua reconstrução, menos ainda em seu formato de origem.

As "identidades" flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às ultimas. Há uma ampla probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece eternamente pendente. Quanto mais praticamos e dominamos as difíceis habilidades necessárias para enfrentar essa condição reconhecidamente ambivalente, menos agudas e dolorosas as arestas ásperas parecem, menos grandiosos os desafios e menos irritantes os efeitos. Pode-se até começar a sentir-se, chez soi, "em casa", em qualquer lugar- mas o preço a ser pago é aceitação de que em lugar algum se vai estar total e plenamente em casa. (BAUMAN, 2005, p. 19)

Poderá ser visto mais adiante, com a análise das imagens e dos textos selecionados, como o discurso feminista se vale do fortalecimento da figura feminina como forma de promover a identidade destas com o movimento.

Memória, cultura e linguagem

Em seu livro A noção de Cultura nas Ciências Sociais, Dennis Cuche diz que os seres humanos são essencialmente "seres de cultura". A cultura permite não apenas a adaptação aos meios, mas, também, a adaptação do meio as nossas necessidades. "Em suma, a cultura torna possível a transformação da natureza".

Se todas as pessoas possuem a mesma carga genética, elas se diferenciam por suas escolhas culturais. Nada é puramente natural no ser humano. Mesmo as funções humanas que correspondem a necessidades fisiológicas, como a fome, o sono, o desejo sexual etc, são informados pela cultura. (CUCHE, 2002, p. 11).

Segundo a concepção do antropólogo Roque de Barros Laraia,

O homem [sic] é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é o herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (LARAIA, 2009, p. 45)

 O autor acrescenta ainda que “a cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.” (LARAIA, 2009, p. 49).

Ademais, nem mesmo nossas especificidades biológicas podem ser analisadas sem que se considerem os fatores culturais envolvidos, pois a cultura tem influência direta em nossos comportamentos. Tendo em vista que “tudo que o homem (sic) faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura.” (LARAIA, 2009, p. 51).

Cuche fala também da importância de fazer, antes de tudo, "uma análise polemológica[4] das culturas", uma vez que estas revelam conflitos que se desenvolvem na tensão e muitas vezes na violência, porém, ao mesmo tempo, afirma que devemos ter cuidado para não reduzir os sujeitos.

[...] como a [redução] que supõe que o mais forte está sempre em condições de impor pura e simplesmente sua ordem (cultural) ao mais fraco. Na medida em que a cultura real só existe se produzida por indivíduos ou grupos que ocupam posições desiguais no campo social, econômico e político, as culturas dos diferentes grupos se encontram em maior ou menor posição de força (ou de fraqueza) em relação às outras. Mas mesmo o mais fraco não se encontra jamais totalmente desarmado no jogo cultural. (CUCHE, 2002, p. 145) 
      
Traremos à discussão o que Cuche apresenta ao falar em "cultura dominante" e "cultura dominada". Nesta discussão, ele ressalta que as relações são estruturadas de forma hierárquica e evoca o que Karl Marx e Max Weber afirmaram: "que a cultura da classe dominante é sempre a cultura dominante". (CUCHE, 2002, p. 145). 

Isso pode ser visto no discurso machista quando, por exemplo, este evidencia a objetificação e hipersexualização feminina em campanhas publicitárias de cerveja, ou, ainda, quando somente mulheres são retradas em comerciais de produtos de limpeza.

 Cabe nesse contexto, portanto, o que Adorno e Horkheimer afirmaram:

[...] mais do que vender produtos, a publicidade visa difundir e legitimar o estilo de vida e as visões de mundo do grupo dominante, prescrevendo em seus anúncios normas de comportamento e padrões de conduta própria das classes hegemônicas. (1985, apud CAMPOS; CAMPOS, 2012, p. 213)

Voltando a Marx e Weber, Cuche assinala que ao se falar em cultura dominante e cultura dominada, na verdade estamos destacando a existência de "grupos sociais que estão em relação de dominação ou de subordinação uns com os outros." (CUCHE, 2002, p. 145). 

Esse fator social-ideológico é também ressaltado por Marina Yaguello, na introdução de "Marxismo e filosofia da linguagem" de Mikhail Bakhtin. Nesta obra, Yaguello (2009, p. 14) aponta que o autor "valoriza justamente a fala, a enunciação, e afirma sua natureza social, não individual: a fala está indissoluvelmente ligada às condições da comunicação, que, por sua vez, estão sempre ligadas às estruturas sociais.”.

Entretanto, cabe salientar que a cultura dominada não seria necessariamente uma "cultura alienada" mas, sim, uma cultura que em sua evolução não poderia desprezar a cultura dominante, mesmo que busque resistir à dominação. Tal afirmativa aponta para o que compreendemos ser o caso do movimento feminista.

O habitus

Traremos também para a discussão o conceito de habitus trabalhado por Pierre Bourdieu, que diz que 

[os habitus] são sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, a funcionar como princípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas a seu objetivo sem supor que se tenham em mira conscientemente estes fins e o controle das operações necessárias para obtê-los [...]. (BOURDIEU, 1980a, p. 88 apud CUCHE, 2002, p. 171)

Observando este conceito, compreendemos que nós possuímos essas "disposições" através de modos de vida particulares e condicionamentos próprios. No entanto, é o habitus que diferencia uma classe ou grupo social dos outros que não corroboram com suas características e condições sociais. Os estilos de vida usufruídos por um grupo social determinado são, segundo Cuche (2002, p. 171-172), "a expressão simbólica das diferenças inscritas objetivamente nas condições de existência.”.

De acordo com o pensamento de Bourdieu (1980a, p. 88 apud CUCHE, 2002, p. 172), "o habitus funciona como a materialização da memória coletiva que reproduz para os sucessores as aquisições dos precursores". Dessa forma, ele continua existindo no íntimo da pessoa, pois o mesmo é tão interiorizado, que o individuo não percebe sua manifestação. Sendo assim, ele faz com que os indivíduos de determinados grupos atuem de forma semelhante diante da mesma situação, sem que precisem ao menos se comunicar para tal. Desta feita, é o habitus que orienta os indivíduos em seu espaço social e permite assim que adotem "práticas que estão de acordo com sua vinculação social" (CUCHE, 2002, p. 172).  

Ele torna possível para o indivíduo a elaboração de estratégias antecipadoras que são guiadas por esquemas inconscientes, 'esquemas de percepção, de pensamento e de ação' que resultam do trabalho de educação e de socialização ao qual o indivíduo está submetido e de "experiências primitivas" que a ele estão ligadas e que têm um 'peso desmesurado' em relação às experiências posteriores. (Ibidem, p. 172). 

Devemos levantar também a questão de que o habitus está incorporado na memória coletiva. Seriam as tais "disposições duráveis", que caracterizam o habitus também às disposições corporais, chamada por Bourdieu de "hexis corporal". Em relação ao corpo, é o que provoca em cada grupo social um estilo particular, porém, mais do que um estilo próprio, é uma moral social incorporada nos sujeitos. (Ver Figura 10)

Cada pessoa, por seus gestos e suas posturas, revela o habitus profundo que o habita, sem se dar conta e sem que os outros tenham necessariamente consciência disso. Pela hexis corporal, as características sociais são de certa forma "naturalizadas": o que parece e o que é vivido como "natural" depende, na realidade de um habitus. Esta "naturalização" do social é um dos mecanismos que garantem mais eficazmente a perenidade do habitus. (Ibdem, p. 173). 

A partir do momento em que o habitus se torna homogêneo em um grupo ou classe social, homogeneizando assim os gostos, este torna também compreensível e previsível as preferências e práticas que são consideradas evidentes dentro do grupo. E essas práticas "evidentes" só se justificam pela interiorização do habitus.

Tal homogeneização não anula a diversidade dos estilos pessoais, porém, de acordo com Bourdieu, as variantes individuais devem ser percebidas como "variantes estruturais", pois elas evidenciam a trajetória do individuo dentro desse contexto social.

A noção de "trajetória social" permite que Bourdieu escape de uma concepção fixista do habitus. Para ele, o habitus não é um sistema rígido de disposições que determinariam de maneira mecânica as representações e as ações dos indivíduos e que garantiria a reprodução social pura e simples. As condições sociais do momento não explicam totalmente o habitus, que é suscetível de modificações. (Ibdem, p. 174). 

Ainda assim, o habitus é passível de modificações que devem ser levadas em consideração na hora de analisá-lo, principalmente quando ocorre mobilidade social e desde que esta tenha ocorrido em outras gerações e tenha sido também interiorizada. 

Signo, diálogo e ideologia

Volochínov e Medviédiev, integrantes do Círculo do linguista Mikhail Bakhtin[5], buscaram ao longo dos seus trabalhos contribuir para "a construção de uma teoria marxista da criação ideológica" (FARACO, 2009, p. 45). Para os integrantes do Círculo a palavra ideologia significava o universo dos produtos feitos pelo "espírito" humano, chamados por alguns de "cultura imaterial" ou "produção espiritual", enfim, tudo que unia a arte, como a ciência, a filosofia, o direito, a religião, a ética e a política.

Para o Círculo, não havia possibilidade de existir nenhum enunciado não-ideológico, pois o mesmo compreendia que todo enunciado era um produto ideológico "em dois sentidos: qualquer enunciado se dá na esfera de uma das ideologias [...] e expressa sempre uma posição avaliativa." (Ibdem, 2009, p. 47)

Bakhtin afirma que tudo que é ideológico tem um significado. Logo, todo produto ideológico é um signo e, sendo assim, a criação ideológica se sustenta na semiótica (estudo dos signos): "Sem signos não existe ideologia. [...] O domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos: são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo que é ideológico possui um valor semiótico." (Ibdem, 2009, p. 30)

No que se refere à linguagem, Bakhtin diz que esta não deve ser vista como um amontoado de categorias gramaticais abstratas, mas, sim, como uma "realidade axiologicamente saturada", como um acontecimento estratificado. E não somente um "estratificado" estabelecido visivelmente através de variedades geográficas, temporais e locais. Segundo ele, ao se encontrarem, essas vozes sociais dialogam e essa dialogização compõe uma dinâmica importante: "elas vão se apoiar mutuamente, se interiluminar, se contrapor parcial ou totalmente, se diluir em outras, se parodiar, se arremedar, polemizar velada ou explicitamente e assim por diante." (Ibdem, 2009, p. 58).  

Os autores ressaltam que mais importante que o diálogo são as forças sociais e as significações que os enunciados trazem consigo. É o que eles chamam de "relações dialógicas" ou "dialogismo". Esse dialogismo não é evidente somente nos discursos, mas também na significação do enunciado, a partir da interação verbal (FARACO, 2009). Sendo assim, todo enunciado colocado na mesma posição, ou seja, com o mesmo sentido, estabelece relação dialógica: "mesmo enunciados separados um do outro no tempo e no espaço e que nada sabem um do outro, se confrontados no plano do sentido, revelarão relações dialógicas." (FARACO, 2009, p. 65).

Segundo Bakhtin, as relações dialógicas se estabelecem no interior dos enunciados. Entretanto, para que isso ocorra é preciso que o diálogo tenha entrado na esfera do discurso e se tornado um enunciado que "tenha fixado a posição de um sujeito social. Só assim é possível responder [...], fazer réplicas ao dito, confrontar posições, dar acolhida fervorosa a palavra do outro, confirmá-la ou rejeitá-la, buscar-lhe um sentido profundo, ampliá-la." (Ibdem, 2009, p. 66). Em outras palavras: é necessário estabelecer relações de sentido com a palavra do outro, relações estas que provocam respostas a partir do encontro de posições avaliativas.

Desta feita, as relações dialógicas são relações entre índices sociais de valor e são parte inseparáveis do enunciado, compreendido não somente como parte da língua, mas como a "a unidade da interação social; não como um complexo de relações entre as palavras, mas como um complexo de relações entre as pessoas socialmente organizadas." (Ibdem, 2009, p. 66).

Pode-se compreender que o diálogo, no sentido amplo do termo, é um grande espaço de luta entre as vozes sociais e nele emergem também os jogos de poder. Para o Círculo, trata-se de espaços de tensão entre os enunciados, que não somente coexistem, mas se tencionam no dialogismo. O processo de identificação também surge nessas relações dialógicas, uma vez que a aceitação de um diálogo corresponde à recusa de outros que não dialogam. (Ibdem, 2009).

Para Bakhtin, a vida humana é naturalmente dialógica:

Viver significa tomar parte no diálogo: fazer perguntas, dar respostas, dar atenção, responder, estar de acordo e assim por diante. Desse diálogo, uma pessoa participa integralmente no decorrer de toda sua vida: com seus olhos, lábios, mãos, alma, espírito, com seu corpo todo e com todos os seus feitos. Ela investe seu ser inteiro no discurso e esse discurso penetra no tecido dialógico da vida humana, o simpósio universal. (BAKHTIN, 1963, p. 293 apud FARACO, 2009, p. 76).

Dessa forma, a não-existência caracteriza-se pelo fato da pessoa não ser mais ouvida, reconhecida e nem lembrada. Pois, conforme o autor, "ser significa se comunicar, significa ser um para um outro e, pelo outro, ser para si mesmo [...] eu não posso me arranjar sem um outro, eu não posso me tornar eu mesmo sem um outro; eu tenho de me encontrar num outro para encontrar um outro em mim." (BAKHTIN, 1963, p. 287 apud FARACO, 2009, p. 76).

A importância do receptor do enunciado se faz na medida em que ele constitui parte fundamental do discurso, que é carregado de outras vozes sociais. Conforme ilustra Bakhtin, nós utilizamos as palavras que pegamos dos lábios dos outros e não do dicionário. Dessa forma, os enunciados surgem a partir do contato com o outro constituindo "uma multidão de vozes interiorizadas", formando o que Bakhtin chama de "discurso citado". Essa multidão de vozes normalmente não é percebida dessa maneira, pois estão incorporadas nos sujeitos discursivos e são, na visão do autor, "as palavras que perderam as aspas". (FARACO, 2009, p. 85).

A palavra tem grande força no estudo de Bakhtin (2009, p. 42), pois esta é considerada "um fenômeno ideológico por excelência". A palavra é a força motriz da interação social e carrega consigo suas mudanças. É pela palavra que se percebe a mudança nos discursos, falas estas que estão carregadas de ideologias e que são perpassadas de uma para outra através dos tempos. Como afirma Bakhtin, "cada época e cada grupo social têm seu repertório de formas de discurso na comunicação sócio-ideológica” (2009, p. 44).

Discurso e enunciado

De acordo com a teoria desenvolvida por Mikhail Bakhtin, os gêneros de discurso são determinados socio-historicamente e indissociáveis do processo de comunicação dos seres humanos, resultando em formas-padrão "relativamente estáveis" de um enunciado. (SIGNOR, 2008).

Bakhtin considera que o enunciado é a unidade real do discurso. Por enunciado, entende que se trata de uma fala, que pode ser uma palavra ou frase dotada de intenção. A "intenção" do enunciado é convencer o outro, buscando provocar neste um retorno, uma resposta. Bakhtin chama esse movimento de atitude responsiva. Aqui, compreendemos atitude responsiva como a ação de compreensão de um discurso de modo a elaborar uma resposta, mesmo que esta resposta não esteja explicitada numa fala imediata.

 A compreensão passiva das significações do discurso ouvido é apenas o elemento abstrato de um fato real que é o todo constituído pela compreensão responsiva ativa e que se materializa no ato real da resposta fônica subsequente. (BAKHTIN, 1997, p. 290, grifo do autor).

No entanto, um ato de resposta não é necessariamente seguido de um discurso, pois tanto o entendimento como a resposta podem ser demonstrados por ações. Por exemplo, no caso uma ordem recebida, a resposta pode ser simplesmente a execução desta, podendo transcorrer um tempo até a execução da ação de fato. Este movimento é o que Bakhtin chama de compreensão responsiva de ação retardada.

Pode ocorrer também a compreensão muda de um discurso que resulta numa mudança de comportamento em quem ouve, denominada por Bakhtin de compreensão responsiva muda. Nesse caso, em algum momento, o que foi ouvido e compreendido de forma ativa reverberará no discurso ou na conduta seguinte do ouvinte. Os gêneros secundários buscam esse tipo de compreensão responsiva, ate mesmo pela sua característica complexa e, em suas devidas proporções, vale tanto para o discurso lido ou para o escrito. (BAKHTIN, 1997, p. 290). Essa atitude também é a esperada quando se trata de discursos publicados na web, pois, mesmo que esses abram também espaço para uma resposta imediata, a intenção por trás desses enunciados é provocar uma mudança de comportamento no receptor do discurso. 

Como o autor afirma, as possibilidades de respostas a um discurso são tão vastas quanto à variedade de gêneros discursivos. A intenção em tornar o texto compreensível é somente um dos elementos da intenção discursiva de modo geral. No ato discursivo, o próprio locutor já está produzindo uma resposta a outros discursos nos quais "seu próprio enunciado está vinculado por algum tipo de relação (fundamenta-se neles, polemiza com eles), pura e simplesmente ele já os supõe conhecidos do ouvinte.” (BAKHTIN, 1997, p. 291).

A fala de uma pessoa só existe de fato através de seus enunciados e seu discurso é moldado para isso, pertencendo ao sujeito falante e não existindo fora desse contexto.

Quaisquer que sejam o volume, o conteúdo, a composição, os enunciados sempre possuem, como unidades da comunicação verbal, características estruturais que lhes são comuns, e, acima de tudo, fronteiras claramente delimitadas. E neste problema das fronteiras, cujo princípio é essencial, que convém deter-se com vagar. As fronteiras do enunciado concreto, compreendido como uma unidade da comunicação verbal, são determinadas pela alternância dos sujeitos falantes, ou seja, pela alternância dos locutores.
(BAKHTIN, 1997, p. 293-94).

De acordo com o autor, todo enunciado, desde uma palavra até o romance ou texto científico, abarca um "começo absoluto e um fim absoluto": antes de seu início existe o enunciado dos outros e, depois que acaba, existe os enunciados-respostas dos outros (ainda que seja uma compreensão responsiva ativa ou muda).

O locutor termina seu enunciado para passar a palavra ao outro ou para dar lugar à compreensão responsiva ativa do outro. O enunciado não é uma unidade convencional, mas uma unidade real, estritamente delimitada pela alternância dos sujeitos falantes, e que termina por uma transferência da palavra ao outro, por algo como um mudo “dixi” percebido pelo ouvinte, como sinal de que o locutor terminou. (BAKHTIN, 1997, p. 294).

Bakhtin aponta três fatores intimamente ligados ao enunciado como um todo: 1) o tratamento exaustivo do objeto do sentido; 2) o intento, o querer-dizer do locutor; e 3) as formas típicas de estruturação do gênero do acabamento (BAKHTIN, 1997, p. 299).

O primeiro fator diz respeito à forma como o objeto será abordado pelo autor de acordo com o objetivo a ser alcançado, ou seja, a resposta que se espera obter. Este está relacionado com o segundo fator, que "o que se quer dizer". Essa intenção intrínseca no enunciado vai definir também a forma como este será apresentado

Em qualquer enunciado, desde a réplica cotidiana monolexemática até as grandes obras complexas científicas ou literárias, captamos, compreendemos, sentimos o intuito discursivo ou o querer-dizer do locutor que determina o todo do enunciado: sua amplitude, suas fronteiras. Percebemos o que o locutor quer dizer e é em comparação a esse intuito discursivo, a esse querer-dizer (como o tivermos captado) que mediremos o acabamento do enunciado. Esse intuito determina a escolha, enquanto tal, do objeto, com suas fronteiras (nas circunstâncias precisas da comunicação verbal e necessariamente em relação aos enunciados anteriores) e o tratamento exaustivo do objeto do sentido que lhe é próprio. (BAKHTIN, 1997, p. 300, grifo do autor).  

Esse conceito do querer-dizer alinha-se com a ideia de identidade apresentada anteriormente no que se refere ao objetivo a ser atingido com a fala. Neste objetivo, espera-se cooptar com o discurso e promover o sentimento de identidade com o interlocutor. Isso se dá porque a fala apresenta identidade e é através do discurso que o locutor sinaliza onde reside sua ideologia.

O terceiro fator determinante são as formas estáveis do gênero do enunciado. Quando o locutor escolhe o gênero do discurso já o faz a partir do que se quer dizer. Essa escolha é feita de acordo com a especificidade do canal de comunicação utilizado, a temática necessária, dos receptores do discurso etc. Adiante, a intenção do discurso adapta-se e se ajusta a esse gênero escolhido, sendo composto e desenvolvido nesse formato sem que o autor abdique de sua individualidade, já que, como dito, todo discurso carrega uma ideologia. (BAKHTIN, 1997, p. 300).  

Bakhtin (1997, p. 314) diz que a experiência verbal particular do ser humano toma forma e amadurece de acordo com a sua relação com o outro, na forma de interação sucessiva e constante com os enunciados alheios. Usada de forma criativa, essa experiência pode ser definida como sendo um processo de assimilação do discurso do outro e não necessariamente das palavras da língua.

Nossa fala, isto é, nossos enunciados (que incluem as obras literárias), estão repletos de palavras dos outros, caracterizadas, em graus variáveis, pela alteridade ou pela assimilação, caracterizadas, também em graus variáveis, por um emprego consciente e decalcado. As palavras dos outros introduzem sua própria expressividade, seu tom valorativo, que assimilamos, reestruturamos, modificamos. A expressividade da palavra isolada não é pois propriedade da própria palavra, enquanto unidade da língua, e não decorre diretamente de sua significação. Ela se prende quer à expressividade padrão de um gênero, quer à expressividade individual do outro que converte a palavra numa espécie de representante do enunciado do outro em seu todo—um todo por ser instância determinada de um juízo de valor. (BAKHTIN, 1997, p. 300). 

A partir de então, pode-se analisar o processo de significação do discurso, tendo em vista que os agentes que compõem um enunciado são "a entonação expressiva, a modalidade apreciativa sem a qual não haveria enunciação, o conteúdo ideológico, o relacionamento com uma situação social determinada [...]". (YAGUELLO, 2009, p. 15). Assim sendo, pode-se interpretar o enunciado tendo em vista a continuidade do processo de comunicação como um elemento do diálogo, incluindo as produções escritas. Sabendo que "o corpus transforma as enunciações em monólogos", ou seja, que o texto é uma fala individual do autor (ainda que suscite a responsividade), chegamos à conclusão de que é o enunciado é quem produz um diálogo com o interlocutor.

Isso se dá porque a enunciação é de natureza social e representa uma reprodução do diálogo social. Ela não existe fora dessa conjuntura, pois tem em vista que o locutor busca uma "plateia". Da mesma maneira como foi estipulado na 1ª das cinco leis de Ranganatan para a Biblioteconomia que “os livros são escritos para serem lidos”, todo enunciado busca um interlocutor, mesmo que somente em potencial.

“O signo e a situação social estão indissoluvelmente ligados.” Ora, todo signo é ideológico. Os sistemas semióticos servem para exprimir a ideologia e são, portanto, modelados por ela. A palavra é o signo ideológico por excelência; ela registra as menores variações das relações sociais, mas isso não vale somente para os sistemas ideológicos constituídos, já que a “ideologia do cotidiano”, que se exprime na vida corrente, é o cadinho onde se formam e se renovam as ideologias constituídas. (YAGUELLO, 2009, p. 16)

O processo de formação da linguagem está ligado a atividade mental e o pensamento, e este último é determinado pela ideologia. Para Bakhtin, a palavra está atrelada à ideologia, pois ela "é uma superestrutura, as transformações sociais da base refletem-se na ideologia e, portanto, na língua que as veicula." (YAGUELLO, 2009, p. 16).  Logo, compreendemos que a palavra serve como indício de mudança.

ANÁLISES E RESULTADOS

Tendo em vista que o enunciado é a unidade central do discurso e todo discurso traz consigo sua ideologia, podemos analisar os enunciados com vistas à análise das forças sociais por ele provocadas, suas dimensões de valor (axiologias) e a dialogicidade presente nesses contextos. Esses fatores evidenciam as relações de memória e identidade presente nos discursos e, consequentemente, sua ideologia. 

Assim, as imagens a seguir foram analisadas de acordo com os conceitos apresentados.


 Figura 1 - Protesto contra o estatuto do Nascituro[6]
Fonte: Facebook Moça você é machista, 2013

A figura 1 representa um protesto realizado na pagina do Facebook "Moça, você é machista" onde as pessoas, em sua maioria mulheres, revoltaram-se contra um projeto de lei que impunha a proibição do aborto mesmo em caso de estupro a fim de garantir a proteção integral do nascituro fruto deste ato. O projeto assegurava também uma ajuda de custo do governo à gestante e a inserção do nome do estuprador na certidão de nascimento da criança. Além disso, pleiteava a proibição do uso de embriões das pesquisas com células-tronco. Em 2013, devido à repercussão deste projeto de lei, manifestações contrárias a ele ganharam força tanto nas "manifestações de Junho", como nas redes sociais e em paginas feministas.

Lê-se no cartaz: "O corpo é MEU! Os direitos, as escolhas e decisões TAMBÉM! Não ao Estatuto do Nascituro". Nesta fala, onde a mulher busca autonomia sobre o próprio corpo, recorre-se à questão da responsividade no sentido de que o discurso presente já é uma resposta ao discurso impresso pelo "Estatuto do Nascituro". Esta fala também se refere à questão da relação entre "cultura dominante" e "cultura dominada" (CUCHE, 2002), configurando um ato de resistência à dominação imposta pela ideologia machista que, diga-se de passagem, torna a possibilidade de subordinar muito mais eficiente quando tratada em forma de Lei.

Quando a mulher se revolta contra sua posição de subordinada, afirmando que "O corpo é MEU!" de forma taxativa, com o uso de letras em caixa alta, exclamações, sublinhados etc, ela se vale de signos linguísticos para assumir uma posição de confronto, emergindo nesse confronto a luta de classes. Conforme afirma Bakhtin, "O signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes". (2009, p. 47)

Figura 2 – Meu corpo, minhas regras
Fonte Internet, 2013

No discurso feminista, a questão do direito ao próprio corpo é pauta recorrente dos manifestos, como podemos ver na Figura 2: a imagem de uma mulher nua da cintura pra cima com a frase "MEU COrPO, MINHAS REGrAS" escrita em suas costas. Tal imagem pressupõe uma compreensão responsiva ativa, pois se trata de uma publicação numa rede social em que o público receptor possui meios de resposta dinâmicos – as opções "curtir", "comentar", "compartilhar" – e, também, a compreensão responsiva muda, onde a resposta se dá numa mudança de comportamento do receptor (BAKHIN, 1997).

Vê-se nesta imagem um exemplo de compreensão responsiva ativa pois, em nossa análise, algumas pessoas respondem diretamente à imagem impressa pela emissora do discurso com intuito de criticar sua postura, logo, criticar o "discurso feminista". Pode-se observar também nessa resposta direta o conflito entre as ideologias feministas e machistas e, mais, a relação dialética que se dá nos enunciados. Enquanto a mulher clama pela emancipação do corpo feminino, a pessoa que a responde (no caso, um homem) busca através do discurso incisivo, e até falacioso, convencer a emissora (e outras pessoas) de suas ideias, ideias estas que correspondem à ideologia da cultura dominante.

Outra questão que vem à tona na imagem é a questão "identitária". O ato de resposta revela a busca por se distinguir (ou não) do discurso que o enunciado imagético produz. Tendo em vista as funcionalidades ressaltadas da rede social Facebook, pode-se considerar que o ato de "curtir" as postagens representa uma identificação positiva com o conteúdo postado. No entanto, os comentários não indicam necessariamente a mesma intenção, uma vez que a pessoa pode se identificar de forma negativa e se colocar contra o material publicado, revelando isso no seu comentário, como podemos ver na figura acima.

Quando a mulher retratada na imagem escreve em seu corpo um slogan feminista, ela automaticamente está se identificando com a causa, assim como o autor do comentário mostra-se abertamente contra ao afirmar que "sinceramente, odeio algumas feministas". Ou seja, o que o autor busca com tal comentário é evidenciar a dessemelhança (não-identidade) em relação ao feminismo. Logo, no atual contexto, cabe a afirmação de Cuche (2002) que diz que toda identificação é ao mesmo tempo diferenciação.

A identidade como vimos é flexível, ela pode ser adaptada de acordo com o que mais convém a pessoa, principalmente quando essa flexibilização é encarada como um processo de reinvenção histórica do sujeito. (BAUMAN, 2005). Pode-se dizer que o feminismo se vale dessa flexibilidade identitária na medida em que, por meio do discurso, busca promover entre as mulheres essa identificação quanto à causa e, ao mesmo tempo, uma diferenciação em relação ao machismo.

Figura 3 – Feminismo e Sororidade
Fonte: Facebook Feminismo Subversivo, 2013


Figura 4 - Não permita que te silenciem
Fonte: Facebook Feminismo sem demagogia, 2013

Podemos trazer à discussão o pensamento de Bakhtin (2009), tratado anteriormente no que se refere ao processo de assimilação dos discursos alheios e o processo de significação dos discursos. Nas figuras 3 e 4, podemos ver o uso da "entonação expressiva, a modalidade apreciativa" (BAKHTIN, 2009, p. 18) na utilização de afirmações assertivas a fim de com elas provocar nas mulheres um sentimento de identidade através do discurso.

Na figura 3, especificamente, podemos ver a utilização de palavras que buscam promover na mulher a sensação de que, no feminismo, ela pode ser ouvida e tem sua autonomia respeitada. Por exemplo, a palavra que dá o título à tirinha, "sororidade". significa

um pacto de fraternidade entre as mulheres que se reconhecem irmãs. É aliar-se, partilhar e principalmente mudar (e mudar-se) a sua própria realidade como mulher se libertando das diferentes opressões a que somos sujeitas. Nada mais é, que uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo. (GORI, Marcia, 2013)
A união entre enunciado textual e imagético na figura 4 – uma mulher com uma tatuagem que representa a luta feminista – tem um alvo especifico, pois, como Bakhtin assegura, todo enunciado busca um interlocutor a fim de transmitir para ele (no caso ela) sua ideologia e o sentimento de identidade. Em seguida, pode ser visto que é através da linguagem e da recuperação de uma memória social que a luta feminista se fortalece na web. A seguir veremos como os conceitos de discurso e ideologia são indissociáveis da linguagem.



Figura 5 – Seu corpo te pertence                                         Figura 6- Meu respeito, meu direito




Fonte: Facebook Moça, você é machista, 2013                        Fonte: Facebook Uma outra opinião, 2013

Como foi apontado no referencial teórico da pesquisa, a memória social é um instrumento de perpetuação de ideologia que se utiliza da linguagem e, por consequência, do discurso. Possivelmente, a maioria das pessoas, principalmente mulheres, conhece expressões como “a mulher deve se dar ao respeito” ou “mulher precisa se dar ao respeito pra ser respeitada”, entre outras semelhantes. Essa questão da imagem de “respeito” que a mulher deve passar é amplamente debatida nas publicações feministas na internet como está exemplificado nas figuras 5 e 6.

O enunciado das imagens revela a questão da luta entre a memória individual e a memória dos outros, tratada por Pollak (1992). É na afirmação de que o corpo e o respeito por este pertence ao individuo que o conflito entre a memória individual e a coletiva fica evidente. Ambas as figuras também produzem uma atitude responsiva ao tipo de discurso considerado machista, uma vez que idealiza a mulher e retira dela sua autonomia. Podem-se analisar as imagens como uma ação responsiva ativa e ação responsiva muda, pois ao mesmo tempo em que é uma resposta em si, busca através do discurso promover uma mudança de comportamento e mentalidade do receptor.

Portanto, pode-se dizer que as duas figuras dialogam com a memória social do machismo e pretendem romper com a cultura dominante em busca de autonomia nas suas escolhas. Na figura 5, pode ser ressaltada também a objetividade do discurso como visto em Bakhtin, uma vez que promove o dialogismo entre o enunciado e o interlocutor. Outro assunto que também iremos ver nas próximas imagens.




Em 2013, a jornalista Karin Huek realizou uma pesquisa online com 7.762 mulheres e revelou que 83% das entrevistadas não gostam de receber as famosas “cantadas” dos homens nos espaços públicos. A partir dessa pesquisa, foi promovida na internet a campanha “Chega de fiu-fiu”. Esta tinha o intuito de combater essa prática e ganhou bastante repercussão nas redes sociais. As figuras 7 e 8 ilustraram parte da campanha.

Pode-se afirmar que o feminismo pretende alcançar uma mudança de mentalidade e comportamento da sociedade, ou seja, uma mudança de ideologia, e, como vimos, tal mudança reflete-se no discurso. Quando a campanha afirma que “caminhar num espaço público não torna meu corpo público”, ela provavelmente quer dizer (BAKHTIN, 1997) que o corpo feminino não deveria ser visto como algo que possa ser abordado, tocado, violado, invadido. Ele é privado e deve ser encarado e respeitado como tal.

Quando, na imagem 8, o enunciado afirma que “você acha que gritar ‘ô gostosa’ na rua é elogio, sua mãe não”, este tem como alvo a pessoa que pratica o ato da “cantada” com o intuito de provocar nela o sentimento de identidade, evidenciando o incômodo causado com tal atitude. Ao se colocar no lugar do outro, no caso, outra, espera-se a compreensão responsiva muda que resulta em mudança de atitude.
Por fim, analisaremos o conceito de habitus. Este conceito engloba praticamente todos os conceitos elaborados na pesquisa, uma vez que a internalização da cultura e da memória coletiva nos sujeitos podem passar despercebida (CUCHE, 2002). Um bom exemplo de internalização da memória e da cultura dominante machista é a propaganda. Como vimos com Adorno e Horkheimer, ela difunde e legitima o estilo de vida e visão de mundo de determinada cultura.





Figura 9 – Bebedouro de Skol
Fonte: Facebook Moça, você é machista, 2013

Na imagem acima podemos perceber o habitus na objetificação do corpo feminino. Nela podemos observar que a função tanto do bebedouro quanto da mulher é, basicamente, satisfazer aos desejos sexuais masculinos. Ele se evidencia no padrão estético da modelo, no ato realizado por ela, na sua vestimenta e no enunciado textual da imagem.




Figura 10 – Homens no comando
Fonte: Internet, 2012

Na figura 10, podemos ver o exemplo do habitus se manifestando em vários níveis: na postura de comando e no protagonismo dos homens na cena. Nela, os homens aparecem em primeiro plano da imagem. Ainda podemos observar o caráter de subordinação das duas figuras femininas em segundo plano (assim como a representação estética destas, que se encontra dentro do padrão de beleza hegemônico-dominante) e a ideia de que o homem que consome tal produto é um líder ou um comandante. Essas condições se manifestam nos corpos, nas posturas, nos gestos etc.

A memória que a imagem evoca também pode ser ressaltada, pois remete a uma instituição extremamente masculinizada: a das forças armadas. O habitus conforme visto está carregado de uma memória coletiva que se evidencia no corpo da pessoa de forma internalizada e que seria o que Cuche (2002) denomina como "uma moral social incorporada nos sujeitos". Os gestos e a postura evidenciam o habitus da pessoa ou do grupo e estas incorporações são naturalizadas a tal ponto que fazem com aquele se torne eficaz e passe incólume pela maioria das pessoas.

Contudo, o habitus pode ser modificado desde que passe de geração em geração e se internalize. Como se pode perceber na pesquisa, é a internalização e a identificação dos diferentes habitus perpetuados pela cultura machista dominante que o feminismo busca corromper, mesmo que de forma inconsciente, com seu discurso nas redes sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS    
     
Este trabalho investigou o discurso feminista nas redes sociais, analisando as imagens publicadas nas páginas e sites com essa temática, observados os possíveis processos identitários e redes de memória que ocorreram nessas publicações. A partir das análises e resultados, pudemos perceber que o movimento feminista se vale constantemente de recursos de memória para provocar nas pessoas processos identitários e, consequentemente, uma diferenciação com a cultura machista.

O fortalecimento da figura feminina através do discurso é um método recorrente do movimento que busca tornar as mulheres independentes e livres para fazerem suas escolhas. Para tanto, é necessário uma quebra com a cultura dominante e o reforço constante da identidade, tendo em vista que a dominação está consolidada nas mídias, nas políticas, nas relações sociais e em outros campos do viver. 
Além de direitos políticos, o movimento feminista busca internalizar nas mulheres essa força e autonomia através do discurso que visa provocar a mudança social necessária. Pode-se constatar na pesquisa a hipótese de que a web e, especialmente, as redes sociais, são potentes catalisadoras das ideias do feminismo. A partir delas, o feminismo se expande e ganha cada vez mais adeptos e, naturalmente, mais críticos.

Além da questão da memória e identidade, a pesquisa propiciou o contato com os conceitos bakhtinianos de alteridade, dialogismo, responsividade e gêneros discursivos. Tal contato permitiu observar a materialização desses conceitos nas publicações da web. Por parte da pesquisadora, a maior dificuldade encontrada no trabalho foi manter-se imparcial no que se refere ao feminismo. Se tal dificuldade foi superada, acredita-se que foi na medida em que a mesma não buscou realizar um novo manifesto feminista, tampouco panfletar, mas, sim, analisar o discurso realizado pelos diferentes movimentos feministas no espaço virtual.

Acima de tudo, foi possível, através da pesquisa e do desenvolvimento do trabalho, fortalecer os conceitos de "análise do discurso", "memória" e "identidade", conceitos que certamente serão aplicados ao longo da tão esperada trajetória profissional e acadêmica.


REFERENCIAS

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[1] A lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) "cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal." (BRASIL, 2006)

[2]Dupla moral é o termo utilizado para designar a coexistência simultânea de duas morais opostas dentro do mesmo indivíduo ou da mesma instituição. Neste caso, a dupla moral refere-se ao tratamento desigual conferido aos homens e mulheres.” (TÁBOAS, 2011)

[3]  Assim denominado o movimento das mulheres pelo direito ao voto, iniciado nos EUA, em 1848.

[4] Polemologia é estudo da guerra como fenômeno social autônomo; análise de suas formas, causas, efeitos etc. (GARCIA, 2011)

[5] O Círculo de Bakhtin era formado por um pequeno grupo de intelectuais e artistas entre eles Marc Chagall e o musicólogo Sollertinsky, amigo íntimo de Chostakovitch. Também fazia parte deste círculo um jovem professor do Conservatório de Música de Vitebsk, V. N. Volochínov, e ainda P. N. Medviédiev, empregado de uma casa editora. Os dois tornaram-se alunos, amigos devotados e ardorosos admiradores de Bakhtin. (YAGUELLO, 2009, p. 12)

[6] O Estatuto do Nascituro é um projeto de lei brasileiro de 2005 que visa garantir proteção integral ao nascituro. Foi proposto pelos deputados Osmânio Pereira e Elimar Máximo Damasceno. O projeto também pode proibir a pesquisa com células tronco embrionárias no país. O projeto foi arquivado em 31 de janeiro de 2007. No entanto, está tramitando outro projeto de lei semelhante de 2007. Tais projetos de lei têm sido alvo de muitas discussões e críticas, principalmente por resultar na proibição do aborto, em qualquer situação, pois considera que a vida humana surge desde a concepção. (WIKIPEDIA, 2014; BRASIL, 2007)




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